Testemunho da jovem madre do Carmelo de Benevides, Irmã Maria Inês de Deus

 Testemunho da jovem madre do Carmelo de Benevides, Irmã Maria Inês de Deus “A Palavra de Deus falava diretamente ao meu coração sobre o chamado que Ele me fazia.” Me chamo Irmã Maria Inês de Deus, tenho 38 anos, e estou no Carmelo desde 2013. Com a graça de Deus, já fiz minha Profissão Solene de Votos no dia 08 de setembro de 2019, na Festa da Natividade de Nossa Senhora. Desde então, pertenço para sempre ao Amado da minha alma! No ano de 2012, vivi a experiência da Escola do Ano Sabático, em Palmas, Tocantins. Naquela época, eu já possuía certo conhecimento bíblico, mas foi durante o Ano Sabático que pude aprofundar muito mais a minha experiência com a Palavra de Deus. Antes, eu já praticava a Lectio Divina e fazia algumas meditações com os textos bíblicos, mas o Ano Sabático me levou a mergulhar mais profundamente, e isso foi fundamental para o meu processo de discernimento vocacional. A Palavra de Deus falava diretamente ao meu coração sobre o chamado que Ele me fazia. Todo o percurso bíblico realizado durante a Escola tocava-me profundamente. A Comunidade Sementes do Verbo, com seu equilíbrio entre vida ativa e contemplativa, me ajudou a perceber que Deus me chamava à espiritualidade do Carmelo. Foi nos momentos de silêncio, na Adoração Eucarística e na intimidade com a Palavra que encontrei a confirmação do meu chamado. Durante os nove meses que vivi com a Comunidade, aprendi sobre Confiança, Abandono, Perseverança, Alegria… Lições que continuam vivas na minha vocação como carmelita. Trago comigo a prática de meditar a Palavra de Deus a cada manhã e busco contemplá-la ao longo de todo o meu dia, transformando minha vida numa contínua oração. Sou grata por toda a experiência vivida na Comunidade, e a minha maior ação de graças hoje é por viver a vontade de Deus com toda a alegria do meu coração. O lugar que o Senhor me chama a estar é o melhor lugar do mundo! Irmã Maria Inês de Deus, Carmelita – Benevides / Pará Com alegria, temos a felicidade de informar que a jovem Irmã Maria Inês de Deus foi escolhida como a nova Madre do Carmelo de Benevides, Pará, onde vive sua vocação desde 2013. No dia 08 de agosto, as Irmãs Carmelitas do Carmelo de Santa Teresinha, em Benevides, elegeram sua nova Madre Superiora, a jovem Irmã Maria Inês de Deus. Pedimos a Deus que a sustente nesta nova missão de serviço e amor. “Mais um fruto bonito da espiritualidade da Comunidade Sementes do Verbo, alegria do meu coração” (Dom Alberto Taveira)

A Virgem Maria, Mãe da Esperança | Palavra do Fundador – Agosto de 2025

A Virgem Maria, Mãe da Esperança Diz-se no Vaticano que, antes de ser eleito Papa, São João Paulo II, durante o Conclave, manteve consigo um exemplar bem gasto do Tratado sobre a Verdadeira Devoção, de São Luís Maria Grignion de Montfort, um livro que já carregava consigo quando trabalhava como operário nas pedreiras de Zakrzówek e na fábrica de produtos químicos Solvay durante a Segunda Guerra Mundial, e que continuou guardando até mesmo em suas caminhadas de verão nas montanhas italianas do Vale de Aosta. Que profunda e imensa coerência na vida e no caminho de fé desse grande Papa! Foi com Maria que ele aprendeu que a esperança não nasce das competências e dos méritos humanos, mas que o caminho de vida do cristão também deve contar e se unir ao céu e à graça divina. É exatamente a Virgem Maria que sempre nos leva de volta ao próprio Deus, a fonte da esperança. Com muita frequência e rapidez, pensamos primeiramente nos meios humanos para resolver nossas situações complicadas e é, por isso, que o desespero nos assalta com tanta facilidade. A Virgem Maria trazia em seu seio “a esperança de Israel e a expectativa do mundo” e se tornou “a imagem da futura Igreja, que no seu seio, leva a esperança do mundo através dos montes da história” 1. A esperança da Mãe do Redentor A esperança da Mãe do Redentor O autor bíblico Eclesiástico (ou Siraque), personificando a Sabedoria Divina, escreveu esses versículos, por volta de 200 a.C., que podem ser atribuídos à Virgem Maria: “Eu, como a videira, fiz germinar graciosos sarmentos e minhas flores são frutos de glória e riqueza. Vinde a mim todos os que me desejais, fartai-vos de meus frutos.” (Eclo 24, 17-18) As aparições da Santíssima Virgem Maria em Pontmain, na França, no século XIX, um santuário dedicado a “Nossa Senhora da Esperança”, transmitiram uma mensagem de esperança que ainda hoje é atual. Sob esse nome, a Mãe de Deus continua a ser amplamente honrada nesse local. “Maria nos ensina a virtude da esperança, até quando tudo parece sem sentido.” 2 A Virgem Maria, moldada pelas Escrituras Sagradas (seu Magnificat é testemunha disso) e pelas tradições judaicas, esperou com o povo dos justos, dos sábios e dos anawim pela libertação, consolação, de Israel. Ela carregou e traduziu em suas orações os desejos de seu povo, em relação ao qual sua confiança e esperança nunca vacilaram. Sua esperança não amadureceu durante a Paixão, quando a “espada da dor” profetizada pelo sábio Simeão transpassou seu coração? “Tinha morrido a esperança? Provavelmente, no vosso íntimo tereis ouvido novamente a palavra ‘Não temas, Maria!” 3 No Sábado Santo, sua “esperança humilhada” soube esperar a Ressurreição, acompanhando o seu Filho até o fim, como Mãe do Redentor. O Mistério da Redenção se formou no coração da Virgem de Nazaré quando ela pronunciou o seu “fiat” “A partir daquele momento esse coração virginal e ao mesmo tempo materno, sob a particular ação do Espírito Santo, acompanha sempre a obra do seu Filho e palpita na direção de todos aqueles que Cristo abraçou e abraça continuamente com o seu inexaurível amor. E, por isso mesmo, este coração deve ser também maternalmente inexaurível. A característica deste amor materno, que a Mãe de Deus insere no mistério da Redenção e na vida da Igreja, encontra a sua expressão na sua singular proximidade em relação ao homem e a todos as suas vicissitudes. Nisto consiste o mistério da Mãe. A Igreja, que A olha com amor e esperança muito particular, deseja apropriar-se deste mistério de maneira cada vez mais profunda.” 4 Na liturgia, os fiéis “a caminho da plena liberdade, olham para Maria como sinal de firme esperança” 5. Maria viveu a perseverança e a consolação, ambas transmitidas pelas Sagradas Escrituras Aqueles que experimentaram a sabedoria também são testemunhas e instrumentos de esperança para os outros. A Mãe da esperança divina nos torna compreensivos e pacientes em relação às fragilidades e limitações de nossos irmãos e irmãs e das pessoas mais próximas. A esperança do céu também é para eles e nunca está longe de ninguém. Essa esperança é aprendida e vivida por meio da “perseverança e consolação” transmitidas pelas Sagradas Escrituras. “Ora tudo o que se escreveu no passado é para o nosso ensinamento que foi escrito, a fim de que, pela perseverança e pela consolação que nos proporcionam as Escrituras, tenhamos a esperança. O Deus da perseverança e da consolação vos conceda terdes os mesmos sentimentos uns para com os outros, a exemplo de Cristo Jesus, a fim de que, de um só coração e de uma só voz, glorifiqueis o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo.” (Rm 15, 4-6) Em suas catequeses, o Papa Francisco define as virtudes da perseverança e da consolação da seguinte forma: “A perseverança, poderíamos defini-la também como paciência: é a capacidade de suportar, carregar às costas, ‘su-portar’, permanecer fiel, até quando o peso parece tornar-se grande demais, insustentável, e teríamos a tentação de julgar negativamente e abandonar tudo e todos. (…) Ao contrário, a consolação é a graça de saber ver e mostrar em todas as situações, até nas mais marcadas pela desilusão e pelo sofrimento, a presença e ação misericordiosa de Deus.” 6 Essas duas virtudes intimamente relacionadas, a virtude da perseverança e a da paciência, conforme atestam as Escrituras, têm sua fonte em Deus: “O Senhor passou diante dele, e ele exclamou: ‘Senhor! Senhor.’ Deus de compaixão e de piedade, lento para a cólera e cheio de amor e fidelidade; que guarda o Seu amor a milhares, tolera a falta, a transgressão e o pecado.” (Ex 34, 6-7) As Escrituras atestam que a paciência é um atributo divino, de acordo com Êxodo 34, 6: Deus é “makrothymos”, “longânimo”, “magnânimo”, “paciente”, “lento para a ira”. Há uma distância tão grande entre a santidade do Deus da Aliança e o Seu povo rebelde, que o Senhor só pode ser paciente em Sua misericórdia. Assim como Ele é paciente com cada um

Chama Viva de Amor: a alma cheia de Esperança, sua glória consumada e seu desejo satisfeito | Palavra do Fundador – Julho de 2025

Chama Viva de Amor: a alma cheia de Esperança, sua glória consumada e seu desejo satisfeito “Apareceram-lhes, então, línguas como de fogo, que se repartiam e que pousaram sobre cada um deles. E todos ficaram repletos do Espírito Santo.” (At 2, 3-4) No mês passado, entendemos que a vida no Espírito, ou seja, a vida espiritual, não pode ser confundida com uma “vida natural”, ou seja, uma vida influenciada e conduzida principalmente por nossos recursos e hábitos humanos: sensibilidade, intuições e instintos humanos. Além disso, a vida no Espírito não pode ser uma “fusão” indistinta entre o humano e o divino; ela só pode ser uma “aliança” entre o dom divino e o nosso próprio espírito racional. Essa aliança, que acontece na alma, não pode ocorrer sem reações, lutas e renúncias por parte da nossa carne. É nesse sentido que São João da Cruz usa a metáfora do fogo do Espírito Santo que inflama a madeira, a alma, até que os dois se tornem um só fogo incandescente. Diversas declarações feitas pelo Apóstolo Paulo em suas Cartas apontam para a vida no Espírito, que é necessariamente distinta da vida natural, a dos sentidos, dos poderes e instintos humanos. Aqui estão algumas das afirmações de São Paulo: “O próprio Espírito se une ao nosso espírito para testemunhar que somos filhos de Deus.” (Rm 8, 16) “O homem psíquico não aceita o que vem do Espírito de Deus. É loucura para ele; não pode compreender, pois isso deve ser julgado espiritualmente.” (1Cor 2, 14) “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim.” (Gl 2, 20) “Embora vivamos na carne, não militamos segundo a carne.” (2Cor 10, 3) Vimos anteriormente, no mês de junho, as etapas sucessivas da alma, sob o fogo do amor de Deus, que é o Espírito Santo, seguindo estes sete parágrafos: – O Espírito Santo é um fogo que inflama a alma. – A alma unida ao Espírito Santo é transformada, possuída e embelezada. – Os atos de amor dessa alma são muito preciosos – Deus fala às almas que são purificadas e límpidas. – Os efeitos do fogo do Espírito Santo na alma. – Os sentidos e o demônio não podem chegar na substância da alma. – O centro da alma pertence a Deus. Continuamos a nossa leitura e meditação sobre a estrofe I do poema de São João da Cruz: Chama Viva de Amor. I – 1ª estrofe: Oh! chama de amor viva Que ternamente feres  De minha alma no mais profundo centro! Pois não és mais esquiva, Acaba já, se queres, Ah! rompe a tela deste doce encontro. Quando as potências da alma estão bem purificadas “Por estar já bem purificada em sua substância e potências, memória, entendimento e vontade, então a substância divina que todas as coisas alcança por sua pureza, como diz o Sábio (cf. Sb 7, 24), com sua divina chama muito profunda, sutil e elevadamente absorve a alma em si; e nesta absorção da alma pela Sabedoria, o Espírito Santo exercita as vibrações gloriosas de Sua chama.” 1 São João da Cruz especifica a necessidade de purificações para a alma: “em sua substância e em suas potências, memória, entendimento e vontade”. É então que a chama do amor do Espírito Santo alcança todas as partes da alma e a “absorve”, diz ele, como se fosse “absorvida pela Sabedoria”. Antes, essa alma não era tão amável nem doce como é agora “Querendo dizer: pois agora não me afliges mais, nem apertas, nem fatigas como outrora fazias. De fato, convém saber que esta chama de Deus, quando a alma se achava em estado de purificação espiritual, isto é, quando começava a entrar na contemplação, não lhe era tão amiga e suave como agora neste estado de união.” 2 São João da Cruz observa que, antes de passar pela purificação, ou seja, antes de entrar na contemplação da união, essa alma “se afligia, se apertava”, hoje diríamos “se estressava”, se atormentava, “não era tão amiga e suave” como ela se tornou por meio da purificação do fogo do Espírito. É o mesmo fogo do amor que glorifica, fere e purifica a alma “Notemos bem como este fogo de amor, que na união glorificará a alma, é o mesmo que investe primeiramente sobre ela purificando-a. Age de modo análogo ao fogo material sobre a madeira: em primeiro lugar, a investe e fere com a sua chama, secando e consumindo os elementos que lhe são contrários, e assim vai dispondo a madeira, com o seu calor, a fim de penetrar mais profundamente nela e transformá-la em fogo.” 3 “A isto, os espirituais dão o nome de via purgativa. Em tal exercício a alma padece muito detrimento, e sente graves penas noespírito, as quais ordinariamente vêm a repercutir no sentido, pois esta chama de amor lhe é ainda muito esquiva.” 4 São João da Cruz também descreveu esse episódio do “caminho purgativo” na “Subida ao Monte Carmelo”, tal como em “A Noite Escura”. Essas são as “purificações passivas dos sentidos” e as “purificações passivas do espírito”. Esses dois episódios de purificação são necessários para a alma e são vivenciados em diferentes momentos da vida, por meio das provações e circunstâncias pelas quais passa, para que a alma cresça em liberdade interior, pureza e santificação. Posteriormente, “esse mesmo fogo de amor se unirá à alma, glorificando-a”, gratificando-a com dons, talentos e inspirações. Isso corresponderá à etapa da iluminação, que claramente será mais positiva e gratificante. Mas, por enquanto, no caminho da purificação, esse fogo faz com que a alma sinta “certos danos e dores fortes no espírito (que geralmente se refletem nos sentidos), ao sentir essa chama muito rigorosa”. Essa mesma chama de amor é então experimentada como “muito rigorosa”. Isso explica porque muitos podem ser tentados a rejeitar esse trabalho de purificação interior que está ocorrendo providencialmente. E podem ser levados à tentação de acreditar que esse trabalho de purificação do fogo deve ser rejeitado, atribuindo-o ao demônio! “De fato, quando a

Chama Viva de Amor: os efeitos do fogo do Espírito Santo na alma! | Palavra do Fundador – Junho de 2025

Chama Viva de Amor: os efeitos do fogo do Espírito Santo na alma! Chama Viva de Amor: os efeitos do fogo do Espírito Santo na alma! “Apareceram-lhes, então, línguas como de fogo, que se repartiam e que pousaram sobre cada um deles. E todos ficaram repletos do Espírito Santo.” (At 2, 3-4) Ao nos aproximarmos da Festa de Pentecostes e durante os nove dias da Grande Novena do Seminário em preparação para uma nova efusão do Espírito Santo em nossas vidas, pensamos que seria interessante colocar esta introdução sobre o diálogo entre Jesus e Nicodemos. “Disse-lhe Nicodemos: ‘Como pode um homem nascer, sendo já velho? Poderá entrar uma segunda vez no seio de sua mãe e nascer?’ Respondeu-lhe Jesus: ‘Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é espírito’.” (Jo 3, 4-6) Começa um diálogo entre Jesus e esse judeu, Nicodemos, esse notável membro do grupo dos fariseus, certamente já avançado em idade, que havia entendido que “Deus estava com Jesus” (cf. Jo 3, 2). Ele queria saber mais sobre essa união com Deus por parte do Filho de Deus. Uma curiosidade sadia e santa, que lhe rendeu uma resposta de Jesus ainda bastante enigmática: “Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer do alto não pode ver o Reino de Deus” (Jo 3, 3). Sem esse “novo nascimento”, “ninguém pode ver o Reino de Deus” (Jo 3, 3). Assim como “quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3, 5). Naquele momento, Nicodemos deve ter se perguntado, como muitos de nós: “Quando foi que eu nasci de novo?” E Jesus continua dizendo: “O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é espírito” (Jo 3, 6). Isso pode ser traduzido da seguinte forma: “o que nasceu da carne é de natureza carnal; o que nasceu do Espírito é de natureza espiritual”. Essa diferença expressa duas realidades distintas. Esse Nicodemos, um teólogo da Primeira Aliança que, portanto, conhecia bem as Sagradas Escrituras e que deveria ter um profundo conhecimento e comunhão com Deus, ficou intrigado com o testemunho de Jesus porque “ninguém pode fazer os sinais que fazes, se Deus não estiver com ele” (Jo 3, 2). Parece-me que essa narrativa com Nicodemos também é uma interpelação para nós: experimentamos um encontro autêntico com o Senhor vivo – talvez há muitos anos para alguns de nós – e estamos realmente vivendo uma vida espiritual verdadeira e fiel no dia a dia? E ainda assim – como Nicodemos – não ficamos insatisfeitos e nos sentimos distantes e incompletos na nossa relação com o Senhor? É claro que é exatamente por isso que todos os anos a Igreja nos convida a nos deixarmos reacender pelo fogo do Espírito Santo. Por isso, devemos invocá-Lo todos os dias: “Vem Espírito Santo, vem Espírito Santo, vem Espírito Santo!” É claro que Ele já veio em várias visitas, celebrações, eventos e orações em nossas vidas… Mas ainda não O acolhemos tão plenamente quanto deveríamos! Queremos fazer nosso o convite de Jesus: “É preciso nascer do Espírito”, “o que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é espírito” (Jo 3, 6). Nenhum de nós pode se acostumar com a vida no e com o Espírito Santo, porque essa vida espiritual de união com Deus nunca pode ser adquirida de uma vez por todas, como se pudéssemos nos tornar pessoas acostumadas e “profissionais da religião”! Nicodemos, como fariseu praticante, poderia ter se sentido assim. Mas nós também, como ele, vivemos “naturalmente” com esse sentimento de que o costume “que torna natural o que é espiritual” é um perigo real e uma ilusão para a nossa vida de união com Deus. É o mesmo perigo que existe quando as pessoas tentam viver a sua vida espiritual a partir de sua sensibilidade. Como se “sentir” a presença de Deus pudesse se tornar um apoio habitual. É verdade que o Senhor pode nos permitir sentir a Sua presença em determinados momentos da nossa vida, mas não devemos usar isso como apoio para a nossa vida espiritual. Precisamos renascer do Espírito Após essa introdução, que nos permite fazer uma clara distinção entre “o que é carnal e o que é espiritual”, vejamos o ensinamento que devemos aprender com São João da Cruz. Para o santo doutor do Carmelo, não é possível que a nossa vida espiritual encontre um apoio habitual e duradouro no terreno da nossa sensibilidade natural. A experiência sensível pode ocorrer durante os primeiros dias, e meses talvez, do encontro, mas não muito além disso. É necessário que a nossa alma se deixe “purificar” e até mesmo “ferir” pelo fogo do Espírito, e até mesmo ser “esvaziada” dos efeitos dos sentidos externos e das faculdades naturais, que estão demasiadamente em nossa posse, controle e influência. Para São João da Cruz, não há nada de negativo ou mórbido nessa purificação, pelo contrário, somente essa “alegria dolorosa” pode abrir a porta de nossa alma para a união e a contemplação de Deus. Para isso, temos de aceitar passar da carne para o espírito, em outras palavras, “nascer de novo” (Jo 3, 3). “O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é espírito” (Jo 3, 6) “Na verdade, é o Espírito Santo, com a Sua presença perene no caminho da Igreja, que irradia nos crentes a luz da esperança: mantém-na acesa como uma tocha que nunca se apaga, para dar apoio e vigor à nossa vida. Com efeito a esperança cristã não engana nem desilude, porque está fundada na certeza de que nada e ninguém poderá jamais separar-nos do amor divino.” 1 Ó Chama Viva de Amor! Neste mês de junho, que corresponde à preparação para uma nova vinda do Espírito Santo, neste Ano Jubilar, escolhi recorrer à ajuda inspirada de São João da Cruz, Doutor da vida

O Papa Leão XIV mencionou a mesma obra da capa do nosso livro “Sementes da Trindade”

De forma inesperada, o Papa mencionou a mesma obra da capa do nosso livro: “Sementes da Trindade”   Essa pintura do semeador de Van Gogh foi escolhida por nossa fundadora, Marie Josette para ilustrar seu livro: “Sementes da Trindade” lançado nesta segunda-feira (19), foi usado nesta quarta-feira dia (21) pelo Papa Leão XIV, em sua primeira Audiência Geral, para explicar a parábola do semeador. Que essa feliz coincidência desperte no leitor uma escuta mais atenta ao que Deus deseja comunicar com os grãos maduros que são a “ imagem de esperança”. Livraria online:https://livraria.sementesdoverbo.org Em sua primeira Audiência Geral do Jubileu 2025, o Papa Leão XIV retomou o ciclo de catequeses “Jesus Cristo, nossa esperança“, com as parábolas de Jesus, hoje com a parábola do Semeador (Mateus 13, 1-17), que, segundo o Pontífice, oferece uma chave para entender a ação de Deus na história e a forma como a Sua Palavra se espalha em nossas vidas. O Papa explicou que as parábolas, apesar de simples narrativas do cotidiano, nos convidam a uma reflexão profunda, questionando: “Onde estou nesta história? O que diz esta imagem à minha vida?“. “A parábola do Semeador revela a dinâmica da Palavra de Deus, cada palavra do Evangelho é como uma semente lançada no terreno da nossa vida.” A atitude “esbanjadora” do semeador, que espalha a semente em todo tipo de solo – seja ele a beira da estrada, entre pedras, no meio de arbustos. Essa imagem poderosa ilustra o amor incondicional de Deus, que não espera que o terreno seja perfeito, mas confia e espera que a semente floresça em todas as nossas situações, das mais superficiais às mais acolhedoras. “Deus confia e espera que, mais cedo ou mais tarde, a semente floresça. É assim que nos ama: não espera que nos tornemos o melhor terreno, concede-nos sempre generosamente a sua palavra“, afirmou.  “Tenho em mente aquela maravilhosa pintura de Van Gogh: ‘O Semeador ao Pôr do Sol‘“, disse o Papa. Ele descreveu a imagem do semeador sob o sol ardente, notando que Van Gogh representou o grão já maduro por trás do semeador. “Parece-me exatamente uma imagem de esperança: de uma maneira ou de outra, a semente deu fruto. Não sabemos bem como, mas é assim!“. O Papa destacou que, na pintura de Van Gogh, o foco não está no semeador, mas no sol, talvez para nos recordar que é Deus quem move a história, mesmo que às vezes pareça distante. É o sol que aquece a terra e faz a semente amadurecer. PAPA LEÃO XIV Ciclo de Catequese – Jubileu 2025. Jesus Cristo Nossa Esperança. II. A vida de Jesus. As parábolas 6. O semeador. Falou-lhes, então, de muitas coisas em parábolas (Mt 13,3)   

A Esperança Jubilar da Misericórdia Divina e a Indulgência Plenária | Palavra do Fundador – Maio de 2025

A Esperança Jubilar da Misericórdia Divina e a Indulgência Plenária Para alguns autores de artigos de revistas, a ideia de futuro pode ser facilmente confundida hoje com a de progresso. O Papa Bento XVI, no início de sua Encíclica sobre a Esperança, menciona esse risco de confusão desde a era moderna, a partir do século XVI: “A novidade – conforme a visão de Bacon – está numa nova correlação entre ciência e prática. Isto foi depois aplicado também teologicamente.” 1 É claro que a noção de progresso não é alheia à ideia cristã de um Reino a ser construído. Além disso, quem desejaria hoje voltar à vida das pessoas que viveram antes de Cristo? Ninguém pode negar que o cristianismo foi (e ainda é) uma evidência e uma oportunidade de imenso progresso em vários aspectos tanto da vida dos fiéis quanto da sociedade civil. O Reino de Deus não pode ser construído sem Misericórdia Além disso, se como o próprio Jesus anunciou, “o Reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17, 21), devemos reconhecer que ainda não foi totalmente estabelecido neste mundo. Caso contrário, há o perigo de confundir a cidade dos homens com a Cidade de Deus. É importante não confundir os dois: “a graça de Deus neste mundo” e “a glória eterna no outro” 2. Jesus nunca deixou de mostrar que esse Reino de Deus já está aqui, presente na humanidade e, no entanto, ainda está por vir em sua plena realização. “Interrogado pelos fariseus sobre quando chegaria o Reino de Deus, respondeu-lhes: ‘A vinda do Reino de Deus não é observável. Não se poderá dizer: ‘Eilo aqui! Ei-lo ali!’, pois eis que o Reino de Deus está no meio de vós’.” (Lc 17, 20-21) Ele que anunciou: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino!” (Lc 12, 32). Ele mesmo advertiu: “Meu reino não é deste mundo. Se meu reino fosse deste mundo, meus súditos teriam combatido para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas meu reino não é daqui” (Jo 18, 36). Observemos o número de vezes que Jesus anuncia e proclama: “O Reino de Deus está próximo”. Nessas três palavras, percebemos a Verdade como um díptico com “frente e verso”: primeiro, o anúncio da Boa Nova que Jesus torna presente em Sua pessoa. E, ao mesmo tempo, a humildade discreta com que Ele nos adverte que essa “proximidade” nos obrigará a certas virtudes e condições para entrarmos em sua plena vinda. “Da mesma forma também vós, quando virdes essas coisas acontecerem, sabei que o Reino de Deus está próximo.” (Lc 21, 31) As fontes inesgotáveis da misericórdia divina O Evangelista São João relata as duas aparições do Senhor Ressuscitado: a primeira, no próprio dia da Ressurreição (cf. Jo 20, 19), e a segunda, “oito dias depois” (Jo 20, 26). Foi nessa segunda ocasião que o Senhor Jesus mostrou a Tomé e aos discípulos presentes os sinais da crucificação: em “suas mãos”, “seus pés” e “seu lado” (Jo 20, 27). Esses são os sinais muito reais e visíveis em Seu corpo ressuscitado. “Aquelas sagradas chagas, nas mãos, nos pés e no lado, são fonte inexaurível de fé, de esperança e de amor da qual todos podem haurir, especialmente as almas mais sequiosas da Divina Misericórdia.” 3 “O Novo Testamento fala-nos da misericórdia divina (‘eleos’) como síntese da obra que Jesus veio realizar no mundo em nome do Pai (cf. Mt 9, 13). A misericórdia de Nosso Senhor manifesta-se sobretudo quando se debruça sobre a miséria humana e demonstra a Sua compaixão por quem precisa de compreensão, cura e perdão. Em Jesus, tudo fala de misericórdia. Mais ainda, Ele mesmo é a misericórdia.” 4 São João Paulo II foi o grande apóstolo e Papa da Divina Misericórdia de nosso tempo. A Misericórdia Divina esteve verdadeiramente no centro do seu pontificado, particularmente em três atos notáveis: – Ao escrever, em 1980, a Encíclica “Dives in misericordia” – Ao canonizar Santa Faustina Kowalska (1905-1938) no dia 30 de abril de 2000. – E ao declarar o domingo depois da Páscoa como “Domingo da Misericórdia”, celebrado pela primeira vez no dia 22 de abril de 2001. Foi no Santuário da Divina Misericórdia, em Kraków-Łagiewniki, perto de Cracóvia, na Polônia, que São João Paulo II inaugurou o terceiro milênio confiando o mundo à misericórdia do Pai, no dia 17 de agosto de 2002. No mesmo lugar que ele visitava regularmente durante a sua juventude e onde está conservado o corpo de Santa Faustina Kowalska. A Divina Providência quis que esse grande Papa morresse precisamente na véspera do Domingo da Divina Misericórdia, na noite de 2 de abril de 2005. A Misericórdia Divina: a única fonte de esperança A fim de abrir nossos corações à graça da Divina Misericórdia durante este Ano Jubilar, deixemos que estas palavras essenciais da homilia de São João Paulo II na Dedicação do Santuário da Divina Misericórdia, no dia 17 de agosto de 2002, em Cracóvia, nos ajudem: “Repito hoje estas palavras, simples e sinceras, de Santa Faustina, para adorar juntamente com ela e com todos vós o mistério inconcebível e insondável da misericórdia de Deus. Como ela, queremos professar que não existe para o homem outra fonte de esperança, fora da misericórdia de Deus. Desejamos repetir com fé: Jesus, tenho confiança em Ti!” Corações em busca de uma fonte inabalável de esperança “A invocação da misericórdia de Deus surja do fundo dos corações repletos de sofrimento, de apreensão e de incerteza, mas que, ao mesmo tempo, procura uma fonte infalível de esperança.” 5 “É por isso que hoje viemos aqui, ao Santuário de Lagiewniki, para redescobrir em Cristo o rosto do Pai: daquele que é ‘Pai da misericórdia e Deus de toda a consolação’ (2Cor 1, 3). Com os olhos da alma desejamos fixar o olhar de Jesus misericordioso para encontrar na profundidade deste olhar o reflexo da Sua vida, assim como a luz da graça que já recebemos tantas vezes, e que Deus nos destina

Minha primeira Missa no Vaticano e o adeus ao Papa Francisco

Uma Alegria Dolorosa: Minha Primeira Missa no Vaticano e o Adeus a Francisco “Nunca imaginei viver tantas graças no Coração da Igreja.” Me chamo Frei Vando, tenho 42 anos, sou natural de São Paulo, faço parte da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos há 12 anos e conheço a Comunidade Sementes do Verbo há 16 anos. No dia 12 de janeiro deste ano, na cidade do Rio de Janeiro, iniciei a formação na Escola São Lucas, da Comunidade Sementes do Verbo, onde permaneci por três meses. A convite da moderadora Geral, dei continuidade à formação do Ano São Lucas aqui em Sinalunga, na Itália, onde devo permanecer até outubro. Certamente, estando na Itália, já imaginava conhecer os santuários, a cidade de Assis — onde está nosso Pai Francisco — e também o Vaticano. O que eu não imaginava era estar no Vaticano em um momento tão único para a Igreja! A morte de um Papa causa tristeza, mas também, pela nossa fé na ressurreição, nos enche de gratidão a Deus pelo legado de Franciscus e pela esperança de um novo tempo, guiado por aquele a quem o Espírito Santo irá conduzir. Minha primeira ida ao Vaticano já foi para o velório do Sumo Pontífice — um sentimento de “alegria dolorosa” que se percebia em todos: a dor pela perda de um grande homem de Deus, e a alegria por tudo o que ele realizou. Na fila, via-se claramente o rosto da Igreja que o Papa Francisco sempre defendeu: uma Igreja de todos. Diversas nacionalidades estavam ali para prestar sua última homenagem àquele que foi ao encontro de tantos. As exéquias do Papa Francisco foram um momento em que todos desejavam estar. Presenciamos desde às 3h da manhã filas intermináveis para a missa, que começaria às 10h. Ao entrar pelos portões e passar pela segurança, por volta das 5h30 da manhã, fomos direcionados ao local reservado aos sacerdotes. Não me dei conta, naquele momento, de que estava na primeira fila, de onde podia ver tudo de muito perto. Assim amanheceu aquele dia: com autoridades e jornalistas do mundo inteiro preparados para viver um momento histórico para a Igreja e para o mundo. Verdadeiramente, é uma sensação única e inacreditável estar tão próximo. Depois percebi que era o único sacerdote brasileiro naquela primeira fila. Outro grande momento foi estar presen te no anúncio de Leão XIV. Ficamos o dia inteiro na Praça de São Pedro, à espera de seu sucessor. A alegria de estar ali era maior do que as inúmeras fotos que tiravam de nós, religiosos. Sem dúvida, Deus nos surpreende de formas inimagináveis, pois nunca imaginei viver tantas graças no coração da Igreja. Só posso agradecer a Deus e à Comunidade Sementes do Verbo por este Kairós em minha vida!  

A Ressurreição de Jesus Cristo: fonte e fundamento da nossa Esperança | Palavra do Fundador – Abril de 2025

A Ressurreição de Jesus Cristo: fonte e fundamento da nossa Esperança Todos os anos, os cristãos são chamados a escalar “a montanha mais alta da nossa fé”, que é a Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, a comemoração de Sua Paixão, Morte e Ressurreição. De fato, não há realidade mais importante para a nossa fé, a qual está fundada nesse evento pascal. Como diz Paulo: “Se Cristo não ressuscitou, ilusória é a vossa fé” (1Cor 15, 17). Esse evento pascal, em si, é fundamentado na Aliança de Deus com o Seu povo, uma aliança iniciada com Adão, depois renovada com Noé, para ser concluída como a “Primeira Aliança” com Abraão, Isaac e Jacó, e agora definitivamente cumprida em Jesus Cristo. É essa Nova Aliança que dá aos fiéis a vida de Deus, que é a vida eterna. Cristo crucificado e ressuscitado é a nossa esperança! Não pode haver definição melhor do que a dada pelo grande exegeta Padre Marie-Joseph Lagrange 1, que, falando dessa Nova Aliança, a descreve como “o abraço de Deus”, para expressar a união do Filho de Deus com a humanidade no mistério da Encarnação e da Cruz. Nesse “abraço” com a humanidade, Cristo se une a cada ser humano, cumprindo o mistério da Redenção por meio da Encarnação e da Cruz. Esse mistério, iniciado no ventre da Virgem Maria, é cumprido na cruz e na morte de Jesus. O Filho de Deus, que tomou sobre si o mal e todos os infortúnios e misérias da humanidade de todos os tempos, derrama a glória de Sua divindade sobre aqueles que colocam a sua fé e a sua confiança Nele. A humanidade de Jesus foi semelhante à de todos os homens, exceto no pecado, e ela é o denominador comum de Deus com o gênero humano: “Pela Sua encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-se de certo modo a cada homem” 2. A esperança não é algo, mas Alguém! Para os discípulos, o que ficou gravado como um trauma no espírito deles foi certamente o evento da Cruz. Para eles, companheiros na comunidade por três anos de vida intensa, tudo desmoronou, tudo acabou. Mas, especialmente para os discípulos da cultura judaica, essa Cruz foi considerada “a Cruz infame”, símbolo da morte e, acima de tudo, da maldição (cf. Dt 21, 22-23; Gl 3, 13), o pior insulto e humilhação que poderia ser feito a um homem condenado, quanto mais ao Messias. “‘Selaram a pedra’ (Mt 27, 66). Tudo parece ter acabado. Para os discípulos de Jesus, aquela pedra marca o fim da esperança. O Mestre foi crucificado, morto da maneira mais cruel e humilhante, pendurado num patíbulo infame fora da cidade: um fracasso público, o pior final possível – naquela época era o pior. Pois bem, aquele desânimo que oprimia os discípulos não nos é totalmente estranho hoje.” 3 Foi somente mais tarde que os discípulos de Jesus descobriram um novo começo, na própria Cruz. Como o Papa Francisco explica em suas catequeses: “Pensemos precisamente na cruz: do mais terrível instrumento de tortura, Deus obteve o maior sinal do amor. Aquele madeiro de morte, transformado em árvore de vida, lembra-nos que os inícios de Deus começam muitas vezes a partir dos nossos fins: é assim que Ele gosta de fazer maravilhas. Então, hoje olhemos para a árvore da cruz, para que em nós brote a esperança: aquela virtude diária, aquela virtude silenciosa, humilde, mas aquela virtude que nos mantém em pé, que nos ajuda a ir em frente. (…) Hoje, olhemos para a árvore da cruz para que germine em nós a esperança: para sermos curados da tristeza – mas, quanta gente triste…” 4 Não foram os pregos que prenderam Nosso Senhor à Cruz, foi o amor Com os olhos da fé, a morte de Jesus na Cruz representa o ápice do amor de Deus, que é mais forte do que a morte. “Nem os pregos nem a cruz poderiam ter detido o Verbo, o Filho de Deus, se o amor não o tivesse prendido”. Como Santa Catarina de Sena expressou em várias de suas cartas: “O sangue de Cristo tornou-se fonte para lavar nossas enfermidades, e os cravos tornaram-se a chave para abrir a porta do céu.” 5 “Os cravos sozinhos não seriam suficientes para retê-lo, se não houvesse o amor. São esses laços que amarram a alma em Deus e a tornam uma só coisa com Ele, numa união de amor. Ó doce e terno amor! Tu purificas a alma, dissolves a nuvem da paixão sensível, iluminas a inteligência e fazes contemplar a eterna verdade.” 6 O Beato Raimundo de Cápua, que foi o pai espiritual de Santa Catarina, sublinha este ponto no livro da sua Vida: “Não foram os pregos que prenderam Nosso Senhor à cruz, foi o amor; não foram os homens que venceram, foi o amor; como poderiam os homens ter vencido Aquele que, com uma palavra, os teria derrubado a todos por terra?” 7 Todos os anos, a Igreja celebra a Páscoa desse “abraço de Deus” com a humanidade através do Corpo de Jesus: Doloroso em Sua Paixão, Luminoso em Sua Ressurreição e Fortalecido pelo Espírito Santo no Amor do Pai. O Papa São João Paulo II, que sofreu durante muitos anos antes de sua morte, obteve da Cruz de Cristo “a esperança que brota da Cruz” 8. Todos nós conhecemos a famosa declaração do Apóstolo São Paulo: “Se Cristo não ressuscitou, ilusória é a vossa fé” (1Cor 15, 17). O mesmo poderia ser dito sobre a esperança: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa esperança”. Mais adiante, São Paulo continua dizendo: “Se esperamos em Cristo somente para esta vida, somos os mais miseráveis de todos.” (1Cor 15, 19) “A esperança nasce do amor e se funda no amor que brota do Coração transpassado de Jesus na Cruz.” 9 Jesus Cristo ressuscitado é a fonte da minha Esperança? O ano de 2033 será o próximo Ano Jubilar, que celebrará o aniversário jubilar da Morte e Ressurreição do Senhor. Do Coração

Jovens adoradores em Évora Portugal: Testemunho de Maria Cordovil Cabral

Jovens adoradores em Évora Portugal: Testemunho da jovem Maria Cordovil Cabral Sou a Maria Cordovil Cabral, tenho 19 anos e estou a terminar o segundo ano na licenciatura de Gestão da Universidade de Évora. Desde pequena sempre fui educada consoante os valores da Igreja, frequentei campos de férias, escuteiros, retiros, fiz missão país, faço parte da pastoral juvenil e universitária e graças a Ele sempre tentei ser muito ativa e próxima da Igreja. Contudo faltava que algo, algo maravilhoso que apenas recentemente se tornou parte da minha vida, da minha rotina. Falo da adoração ao Santíssimo! Ao fazer Convívios Fraternos muita coisa na minha vida mudou, e uma delas foi conhecer a comunidade das Sementes do Verbo. Fiquei muito feliz quando descobri que iriam iniciar uma missão em Évora e que todos nós podíamos fazer parte dela, falaram-me da adoração, do desejo de a tornar algo perpétuo na nossa cidade, e de trazer os jovens para conhecerem esta grande graça! Foi numa missa da comunidade a que decidi ir com mais três amigos que fomos oficialmente convidados para iniciar o grupo “Jovens Adoradores”. Lembro-me de nesse mesmo dia criar o grupo e começar a fazer chamadas, fomos espalhando a palavra e atualmente o grupo tem mais de 50 jovens! Tudo isto começou em outubro de 2024 e desde aí posso dizer que a adoração faz realmente parte da minha rotina. Ao início achei que iria ser complicado, estar uma hora diante do Santíssimo, parecia demasiado tempo, mas rapidamente entendi que passava a correr, podia rezar, ler a Palavra, escrever o que sentia, até chorar um pouco quando era preciso, mas realmente passava a correr quando estava ali, diante do amor de Deus. Com o início das férias comecei a fazer uma hora de adoração diária, e quando tive oportunidade e companhia fiz uma vigília de adoração que foi um dos momentos mais especiais que já tive na presença do Santíssimo. Eu costumo dizer que ter um hábito de adoração frequente é como meter Deus na agenda. Para um jovem ocupado que está em vários movimentos, tem os seus estudos e atividades, é muito importante reservar algum tempo apenas para Ele. A adoração tornou-me sem dúvida uma pessoa mais calma, que pensa mais nos outros e que está todos os dias um pouco mais perto do Senhor, sei que no Calvário tenho um porto seguro e melhor ainda, que posso lá ir à hora que quiser porque vou ser sempre bem recebida, por Ele e pela comunidade que cuida tão bem daquele espaço e nos permite adorar com conforto. Nos próximos meses não vou conseguir ir ao Calvário porque estou a fazer uma experiência de Erasmus na Polónia, não foi a minha primeira opção, mas foi onde Ele me quis, uma das coisas que estava certa que me ia fazer muita falta era este hábito da adoração, e tal não é o meu espanto, quando a igreja mais perto do sitio onde estou a viver tem o Santíssimo exposto todo o dia. Para mim não há resposta mais clara de que Deus realmente quer que a adoração faça sempre parte da minha vida esteja onde estiver e é por isso que estarei eternamente grata a todos os que fizeram com que eu conhecesse esta graça e me apaixonasse perdidamente por ela. Ele realmente sabe o que faz, e hoje digo com certeza que as amizades mais especiais que tenho se fortaleceram bastante através da adoração, individual e em grupo, entre amigos, sempre com Deus no centro. Maria Cordovil Cabral Fonte: diocesedeevora.pt   FUNDAÇÃO DA CASA SANTA ELENA DO MONTE CALVÁRIO  Fundado em 1570 pela Infanta D. Maria de Portugal, o Convento, à Ordem de Santa Clara. As freiras do convento viveram desde sempre em grande pobreza, despojadas de tudo. Conserva-se ainda, até aos dias de hoje, o célebre Sino da Fome que as freiras tocavam em sinal de apelo aos habitantes, quando a fome apertava. Em 2024 a Comunidade Sementes do Verbo assumiu os cuidados deste histórico Convento, que agora conta com Adoração Perpétua e passou a ser também casa de acolhimento para encontros e retiros espirituais. Évora      

“Deixemo-nos purificar dos substitutos da Esperança” | Palavra do Fundador – Março de 2025

40 dias: um deserto de amor e esperança Este mês de março começa com o início dos quarenta dias da Quaresma. O número “quarenta” tem um forte significado simbólico na Bíblia, refere-se aos quarenta anos que o povo de Israel passou no deserto, entre a saída do Egito e a entrada na terra prometida, e também aos quarenta dias que Cristo passou no deserto entre o Seu batismo e o início da Sua vida pública e missão. Foi no século IV que o Concílio de Nicéia, em 325, transformou a Quaresma em um tempo litúrgico específico com duração de 40 dias, dedicado: à formação dos catecúmenos, ao jejum, ao combate espiritual, ao retorno à Deus, à conversão, à confissão dos pecados, à penitência, à purificação interior e à reconciliação. A cada ano, a liturgia no início da Quaresma relembra os três exercícios essenciais a serem praticados: a oração, o jejum e a partilha ou esmola. Mas não devemos nos esquecer da dimensão feliz e positiva desse tempo litúrgico, que também é: “um deserto aberto à esperança e a um amor maior”, como profetizou Oséias: “Eis que vou, eu mesmo, seduzi-la, conduzi-la ao deserto e falar-lhe ao coração. Dali lhe restituirei as suas vinhas, e o vale de Acor será uma porta de esperança. Ali ela responderá como nos dias de sua juventude.” (Os 2, 16-17) O tempo da Quaresma começa todos os anos com a Quarta-feira de Cinzas (neste ano, no dia 5 de março) e terminará na Quinta-feira Santa, dia 17 de abril de 2025. Ao longo dos séculos, a prática do jejum foi adaptada. A Quaresma é um tempo favorável para viver algumas abstinências e privações (jejum), convidando-nos a nos privarmos de uma realidade que nos condiciona, seja ela: comida, carne ou outra; álcool, ou outras substâncias; apego às telas, TV, computador, celular, com os vícios que o acompanham; redes sociais; jogos, etc… Todos podem decidir se desapegar de algo material, especialmente se isso acabar prejudicando os seus relacionamentos, a sua própria vocação e a sua liberdade interior. O principal objetivo do jejum e das abstinências é sempre alcançar um maior amor de caridade para com os outros e uma maior liberdade interior, que se torna mais livre dos apegos terrenos de ano para ano. Para se prepararem para a celebração anual da Páscoa, os israelitas tinham que eliminar o “fermento velho”, ou seja, a massa fermentada proveniente de um processo anterior de fabricação de pão. Em termos de vida espiritual, o fermento simboliza a corrupção do pecado enraizada em nossa vida habitual. Todos nós precisamos ser libertados do fermento velho que simboliza a nossa vida antiga, aquela de que nos envergonhamos hoje. Essas são as “obras da carne” listadas pelo apóstolo Paulo em Gl 5, 19-21. As palavras do Apóstolo Paulo poderiam ser um programa de preparação para a nova Páscoa: “Purificai-vos do velho fermento para serdes nova massa, já que sois sem fermento. Pois nossa Páscoa, Cristo, foi imolada. Celebremos, portanto, a festa, não com velho fermento, nem com fermento de malícia e perversidade, mas com pães ázimos: na pureza e na verdade.” (1Cor 5, 7-8) Embora Jesus fosse particularmente intransigente com relação ao pecado, está claro que Ele era amigo dos pecadores, especialmente daqueles que se reconheciam como tal e que, portanto, se encontravam na atitude espiritual de humildade para acolher a Misericórdia Divina. Por outro lado, a dureza de coração dos fariseus lhe rendeu muitas de suas críticas. Sem humildade, a graça da Esperança permanece estéril. Em um de seus sermões, Santo Agostinho fez uma bela meditação sobre a parábola do publicano e do fariseu (cf. Lc 18, 9-14): “O que o fariseu pediu a Deus? Procurem suas palavras e não encontrarão nada. Ele subiu para orar, mas não queria suplicar ao Senhor, queria louvar a si mesmo. Não louvar a Deus, mas louvar-se a si mesmo, ainda era pouco: além disso, ele expressou seu desprezo por aquele que estava orando. Quanto ao publicano, ele estava à distância – e, no entanto, estava perto de Deus. A consciência do seu coração o movia, mas um sentimento filial o prendia ao Senhor. As Escrituras dizem: ‘O publicano estava de longe’, mas Deus o ouvia atentamente. Pois o Senhor é ‘o Altíssimo’, mas ‘olha para as coisas humildes’, e ‘de longe conhece os grandes’, como esse fariseu. Há alturas que Deus conhece de longe, mas não perdoa. Ouça novamente a humildade do publicano: ‘estava à distância’ – isso é muito pouco: ‘nem sequer se atreveu a levantar os olhos para o céu’: sequer olhou para cima para ser digno de ser visto. Ele não ousou olhar para cima: a sua consciência o esmagava, a sua esperança o elevava. Ouça novamente: ‘batia no peito’. Ele era o executor de sua punição. É por isso que o Senhor mostrou misericórdia ao pecador que confessou sua culpa. ‘O publicano batia no peito, dizendo: ‘Senhor, tem misericórdia de mim, pecador’. Isso é alguém rezando! Que maravilha se Deus não conhece mais o pecado quando o pecador o reconhece!” 1 Santo Agostinho sublinha para nós a importância de “sentir o preço da misericórdia divina que é fonte única e esperança” 2. Passando pela porta estreita Ao longo deste Ano Jubilar, “portas santas” serão instaladas em Roma e em cada diocese, simbolizando a passagem, a “Páscoa”, onde cada peregrino poderá experimentar esse processo de mudança de uma margem para a outra, do velho para o novo, de um antes para um depois. Já citamos o versículo do Evangelho de João, no qual Jesus declara: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem” (Jo 10, 9). A tradição dessa passagem de fé remonta ao século XV. Desde o Jubileu do ano 2000, foi o próprio Papa São João Paulo II que abriu e fechou cada uma dessas portas na Basílica de São Pedro, em Roma. A Basílica de São Pedro foi a primeira a ser aberta e a última a ser fechada. Para