A Virgem Maria, Mãe da Esperança | Palavra do Fundador – Agosto de 2025

A Virgem Maria, Mãe da Esperança Diz-se no Vaticano que, antes de ser eleito Papa, São João Paulo II, durante o Conclave, manteve consigo um exemplar bem gasto do Tratado sobre a Verdadeira Devoção, de São Luís Maria Grignion de Montfort, um livro que já carregava consigo quando trabalhava como operário nas pedreiras de Zakrzówek e na fábrica de produtos químicos Solvay durante a Segunda Guerra Mundial, e que continuou guardando até mesmo em suas caminhadas de verão nas montanhas italianas do Vale de Aosta. Que profunda e imensa coerência na vida e no caminho de fé desse grande Papa! Foi com Maria que ele aprendeu que a esperança não nasce das competências e dos méritos humanos, mas que o caminho de vida do cristão também deve contar e se unir ao céu e à graça divina. É exatamente a Virgem Maria que sempre nos leva de volta ao próprio Deus, a fonte da esperança. Com muita frequência e rapidez, pensamos primeiramente nos meios humanos para resolver nossas situações complicadas e é, por isso, que o desespero nos assalta com tanta facilidade. A Virgem Maria trazia em seu seio “a esperança de Israel e a expectativa do mundo” e se tornou “a imagem da futura Igreja, que no seu seio, leva a esperança do mundo através dos montes da história” 1. A esperança da Mãe do Redentor A esperança da Mãe do Redentor O autor bíblico Eclesiástico (ou Siraque), personificando a Sabedoria Divina, escreveu esses versículos, por volta de 200 a.C., que podem ser atribuídos à Virgem Maria: “Eu, como a videira, fiz germinar graciosos sarmentos e minhas flores são frutos de glória e riqueza. Vinde a mim todos os que me desejais, fartai-vos de meus frutos.” (Eclo 24, 17-18) As aparições da Santíssima Virgem Maria em Pontmain, na França, no século XIX, um santuário dedicado a “Nossa Senhora da Esperança”, transmitiram uma mensagem de esperança que ainda hoje é atual. Sob esse nome, a Mãe de Deus continua a ser amplamente honrada nesse local. “Maria nos ensina a virtude da esperança, até quando tudo parece sem sentido.” 2 A Virgem Maria, moldada pelas Escrituras Sagradas (seu Magnificat é testemunha disso) e pelas tradições judaicas, esperou com o povo dos justos, dos sábios e dos anawim pela libertação, consolação, de Israel. Ela carregou e traduziu em suas orações os desejos de seu povo, em relação ao qual sua confiança e esperança nunca vacilaram. Sua esperança não amadureceu durante a Paixão, quando a “espada da dor” profetizada pelo sábio Simeão transpassou seu coração? “Tinha morrido a esperança? Provavelmente, no vosso íntimo tereis ouvido novamente a palavra ‘Não temas, Maria!” 3 No Sábado Santo, sua “esperança humilhada” soube esperar a Ressurreição, acompanhando o seu Filho até o fim, como Mãe do Redentor. O Mistério da Redenção se formou no coração da Virgem de Nazaré quando ela pronunciou o seu “fiat” “A partir daquele momento esse coração virginal e ao mesmo tempo materno, sob a particular ação do Espírito Santo, acompanha sempre a obra do seu Filho e palpita na direção de todos aqueles que Cristo abraçou e abraça continuamente com o seu inexaurível amor. E, por isso mesmo, este coração deve ser também maternalmente inexaurível. A característica deste amor materno, que a Mãe de Deus insere no mistério da Redenção e na vida da Igreja, encontra a sua expressão na sua singular proximidade em relação ao homem e a todos as suas vicissitudes. Nisto consiste o mistério da Mãe. A Igreja, que A olha com amor e esperança muito particular, deseja apropriar-se deste mistério de maneira cada vez mais profunda.” 4 Na liturgia, os fiéis “a caminho da plena liberdade, olham para Maria como sinal de firme esperança” 5. Maria viveu a perseverança e a consolação, ambas transmitidas pelas Sagradas Escrituras Aqueles que experimentaram a sabedoria também são testemunhas e instrumentos de esperança para os outros. A Mãe da esperança divina nos torna compreensivos e pacientes em relação às fragilidades e limitações de nossos irmãos e irmãs e das pessoas mais próximas. A esperança do céu também é para eles e nunca está longe de ninguém. Essa esperança é aprendida e vivida por meio da “perseverança e consolação” transmitidas pelas Sagradas Escrituras. “Ora tudo o que se escreveu no passado é para o nosso ensinamento que foi escrito, a fim de que, pela perseverança e pela consolação que nos proporcionam as Escrituras, tenhamos a esperança. O Deus da perseverança e da consolação vos conceda terdes os mesmos sentimentos uns para com os outros, a exemplo de Cristo Jesus, a fim de que, de um só coração e de uma só voz, glorifiqueis o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo.” (Rm 15, 4-6) Em suas catequeses, o Papa Francisco define as virtudes da perseverança e da consolação da seguinte forma: “A perseverança, poderíamos defini-la também como paciência: é a capacidade de suportar, carregar às costas, ‘su-portar’, permanecer fiel, até quando o peso parece tornar-se grande demais, insustentável, e teríamos a tentação de julgar negativamente e abandonar tudo e todos. (…) Ao contrário, a consolação é a graça de saber ver e mostrar em todas as situações, até nas mais marcadas pela desilusão e pelo sofrimento, a presença e ação misericordiosa de Deus.” 6 Essas duas virtudes intimamente relacionadas, a virtude da perseverança e a da paciência, conforme atestam as Escrituras, têm sua fonte em Deus: “O Senhor passou diante dele, e ele exclamou: ‘Senhor! Senhor.’ Deus de compaixão e de piedade, lento para a cólera e cheio de amor e fidelidade; que guarda o Seu amor a milhares, tolera a falta, a transgressão e o pecado.” (Ex 34, 6-7) As Escrituras atestam que a paciência é um atributo divino, de acordo com Êxodo 34, 6: Deus é “makrothymos”, “longânimo”, “magnânimo”, “paciente”, “lento para a ira”. Há uma distância tão grande entre a santidade do Deus da Aliança e o Seu povo rebelde, que o Senhor só pode ser paciente em Sua misericórdia. Assim como Ele é paciente com cada um
“São Pedro, o Apóstolo da Esperança!” | Palavra do Fundador – Fevereiro de 2025

São Pedro, o Apóstolo da Esperança Que relação a nossa fé tem com o apóstolo São Pedro, em particular, e também com o Papa Francisco, seu sucessor, hoje? Entre a Doutrina da fé católica, a história da Igreja e a vida espiritual, este mês de fevereiro, com a Festa da Cátedra de São Pedro, no dia 22, dá-nos a oportunidade de tentarmos entender como o Apóstolo São Pedro pode ser, para cada um de nós: um guia e um farol para a nossa fé na Igreja de Cristo, uma motivação em nosso amor pela Igreja e um Apóstolo da Esperança. O Apóstolo São Pedro escreveu duas Cartas que foram incluídas no cânone bíblico do Novo Testamento. A redação final dessas cartas provavelmente ocorreu entre os anos 80 a 90 1. Ele faz eco dos escritos de São Paulo, colocando a esperança, como ele, em um contexto de perseguição e dificuldade para as comunidades cristãs da Ásia Menor. Em sua primeira Carta, que compreende apenas cinco capítulos curtos, o Apóstolo apresenta a virtude da esperança em quatro citações (1Pd 1, 3-5; 1Pd 1, 13; 1Pd 1, 21; 1Pd 3, 13-15): “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, em Sua grande misericórdia, nos gerou de novo, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma esperança viva, para uma herança incorruptível, imaculada e imarcescível, reservada nos céus para vós, os que, mediante a fé, fostes guardados pelo poder de Deus para a salvação prestes a revelar-se no tempo do fim.” (1Pd 1, 3-5) O Apóstolo apresenta primeiro a fonte da nova vida, “gerada de novo na ressurreição de Cristo” e, imediatamente depois, evoca a sua visão escatológica: na “esperança viva” da “herança incorruptível”, “que se revelará no tempo do fim”. Assim, a sua carta começa com a fonte onde a esperança ganha vida e continua com a visão para além da vida terrena do Reino dos Céus. Um primeiro teste para a nossa fé: a fé que espera “Com prontidão de espírito, sede sóbrios e ponde toda a vossa esperança na graça que vos será trazida por ocasião da Revelação de Jesus Cristo.” (1Pd 1, 13) Em seguida, o Apóstolo convida os cristãos a viverem a realidade de sua vida atual orientada para a escatologia e a Parusia do Senhor. Aqui aparece um primeiro teste da nossa fé: “Você realmente vive a sua vida cotidiana voltado(a) para o Oriente (‘orientado’)mnessa direção da Vinda de Cristo no Último Dia? A suamfé é acompanhada ou não por essa Esperança?” “Portai-vos com temor durante o tempo do vosso exílio. Pois sabeis que não foi com coisas perecíveis, isto é, com prata ou com ouro, que fostes resgatados da vida fútil que herdastes dos vossos pais, mas pelo sangue precioso de Cristo, como de um cordeiro sem defeitos e sem mácula.” (1Pd 1, 17-19) Ao escrever “portai-vos com temor”, São Pedro não está, de forma alguma, dizendo aos cristãos a quem ele escreve, para “afundarem no medo”, – especialmente em tempos de perseguição! – como São Paulo também escreveu aos Romanos (cf. Rm 8, 15). Mas ele quer enfatizar o “antes” e o “depois” de uma nova vida, nascida de novo “em Cristo”. Como antigos escravos, agora “libertados” pelo “Cordeiro sem defeito e sem mancha, o sangue de Cristo” (1 Pd 1, 19). Como seres livres que agora direcionam suas vidas cotidianas para o seu Amado Mestre. A fé no Reino dos Céus, o nosso olhar cheio de esperança para o Céu, em outras palavras, a nossa “fé escatológica”, não nos desmobiliza, nem nos faz fugir, nem nos afasta dos compromissos deste mundo. Como o cardeal teólogo Henri de Lubac disse tão bem em sua época: “A crença na eternidade não nos tira do presente e nos perde em sonhos, como às vezes nos dizem, muito pelo contrário. Em vez disso, foi por falhar na eternidade que os cristãos falharam em seu tempo.” 2 A vossa fé é, ao mesmo tempo, a vossa esperança em Deus “Por Ele, vós crestes em Deus, que o ressuscitou dos mortos e lhe deu a glória, de modo que a vossa fé e a vossa esperança estivessem postas em Deus.” (1Pd 1, 21) A esperança não pode ser separada da fé e, com as duas virtudes teologais, são obrigadas a avançar juntas. Como o escritor católico Charles Péguy (1873 – 1914) descreveu, com originalidade e uma fé viva, à maneira de Deus: “A crença de que eu gosto mais, diz Deus, é a esperança. A fé, isso não me espanta. Isso não é espantoso. Eu resplandeço de tal maneira na minha criação. No sol e na lua e nas estrelas. E no homem. Minha criatura. (…) A caridade, diz Deus, isso não me espanta. Isso não é espantoso. Essas pobres criaturas são tão infelizes que a não ser que tivessem um coração de pedra, como não haveriam de ter caridade umas para com as outras. Como não haveriam de ter caridade para com seus irmãos. (…) Mas a esperança, diz Deus, eis o que me espanta. A mim mesmo. Isso é espantoso. Que essas pobres crianças vejam como tudo acontece e acreditem que amanhã vai ser melhor. Que vejam como acontece hoje e acreditem que vai ser melhor amanhã cedo. Isso é espantoso e é mesmo a maior maravilha da nossa graça. E eu mesmo me espanto com isso. E é preciso que de fato minha graça seja de uma força incrível, e que ela escorra de uma fonte e como um rio inesgotável. Desde aquela primeira vez que ela escorreu e escorre sempre desde então.” 3 O segundo teste: qual é a razão da esperança que está em você? “E quem vos há de fazer mal, se sois zelosos do bem? Mas se sofreis por causa da justiça, bemaventurados sois! Não tenhais medo nenhum deles, nem fiqueis conturbados; antes, santificai a Cristo, o Senhor, em vossos corações, estando sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pede;
Dom Orani: Preparação para o Jubileu

Preparação para o Jubileu D. Orani João Cardeal Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro Extratos da Carta Pastoral para o Ano Vocacional Missionário, em 14 de dezembro de 2022. Em tudo devemos ver a Providência Divina que conduz os passos da humanidade, ainda quando essa se distancia ou até mesmo ignora a Sua presença amorosa e cheia de compaixão. […] Os problemas que enfrentamos nestes últimos tempos são, sem dúvida, um divisor de águas, e precisamos dar respostas aos inúmeros desafios que brotaram para a ação evangelizadora. Ano Santo em 2025 O Santo Padre chamou toda a Igreja a reacender a esperança, diante dos transtornos catastróficos causados pela pandemia, que alterou o modo de viver em todo o mundo gerando limitação, medo, perplexidade, dor, sofrimento e morte. O desejo do Papa é que façamos “todo o possível para que cada um recupere a força e a certeza de olhar para o futuro com espírito aberto, coração confiante e mente clarividente”. Desse modo, almeja que o Jubileu da Esperança, cujo lema é Peregrinos de Esperança, favoreça uma grande “recomposição de um clima de esperança e confiança, como sinal de um renovado renascimento do qual todos sentimos a urgência […] tudo isto será possível se formos capazes de recuperar o sentido de fraternidade universal […]. Que as vozes dos pobres sejam escutadas neste tempo de preparação” 1. A preparação para o Jubileu 2024 – Ano da Oração O ano de 2024, segundo o Papa Francisco, será dedicado à oração a fim de “recuperar o desejo de estar na presença do Senhor, escutá-Lo e adorá-Lo […] para agradecer a Deus tantos dons do seu amor por nós e louvar a sua obra na criação […] que se traduz na solidariedade e partilha do pão quotidiano” 2. Compreendendo que a oração é “o programa de vida” dos discípulos de Jesus, nossas atividades pastorais deverão ser planejadas, pautadas e permeadas pela oração. Preparar-se para o Jubileu com a Lectio Divina […] Evangelizar é a resposta que os cristãos, ao longo dos séculos, têm dado a quaisquer situações novas. Maiores os problemas, maior deve ser a missão, uma missão que começa no testemunho, mas que se confirma no claro falar de Jesus Cristo, na dedicação de um tempo à vida e ao serviço em comunidade e na participação ativa nas obras de caridade. Como afirma também o Papa Francisco, “Evangelizar é um convite que o Senhor Jesus faz a todos os batizados. Para isso é necessário que nos deixemos envolver por Ele, renovando nosso encontro pessoal com Ele” 3. Busquemo-lo porque ele nos busca, Ele nos deseja.[…] Tenho insistido sobre a importância da Lectio divina por tratar-se de um alimento necessário para a nossa vida espiritual, principalmente como método para os círculos bíblicos e grupos de reflexão ou pequenas comunidades. Com base nesse exercício, conscientes do plano de Deus e de sua vontade, podemos produzir os frutos espirituais necessários para a salvação. A Lectio divina consiste em deixar-se envolver pelo plano de salvação de Deus. O Concílio Vaticano II, em sua Constituição dogmática Dei Verbum, n. 25, ratificou e promoveu, com todo o peso de sua autoridade, a restauração da Lectio divina, retomando essa antiquíssima tradição da Igreja Católica. O Concílio exorta igualmente, com ardor e insistência, a todos os fiéis cristãos, sobretudo os religiosos, que, pela frequente leitura das divinas Escrituras, alcancem este bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo (Fl 3,8), porquanto “ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo” 4. O método mais antigo, que inspirou outros mais recentes, consiste em que, pessoalmente, em comunidade, ou no círculo bíblico, a reflexão com a palavra de Deus, depois da invocação do Espírito Santo, siga os passos tradicionais: 1) lectio (leitura); 2) meditatio (meditação); 3) oratio (oração); 4) contemplatio (contemplação). Existem outros métodos que, inspirados neste, procuram ajudar o cristão a acolher em sua vida a palavra de Deus e pô-la em prática no seu dia a dia. Chegou o momento de passarmos a propor em nossos grupos de reflexão, círculos bíblicos e outros grupos a palavra de Deus como fonte de reflexão e inspiração para iluminar a nossa realidade concreta. Fonte: 1 Papa Francisco, Carta ao Arcebispo Rino Fisichella pelo Jubileu 2025, 1 1 . f e v . 2 0 2 2/ 2 Ibid. 3 Cf. Papa Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 2013, n.3. 4 São Jerônimo, in Is., prol.