São Pedro, o Apóstolo da Esperança

Que relação a nossa fé tem com o apóstolo São Pedro, em particular, e também com o Papa Francisco, seu sucessor, hoje? Entre a Doutrina da fé católica, a história da Igreja e a vida espiritual, este mês de fevereiro, com a Festa da Cátedra de São Pedro, no dia 22, dá-nos a oportunidade de tentarmos entender como o Apóstolo São Pedro pode ser, para cada um de nós: um guia e um farol para a nossa fé na Igreja de Cristo, uma motivação em nosso amor pela Igreja e um Apóstolo da Esperança. O Apóstolo São Pedro escreveu duas Cartas que foram incluídas no cânone bíblico do Novo Testamento. A redação final dessas cartas provavelmente ocorreu entre os anos 80 a 90 1. Ele faz eco dos escritos de São Paulo, colocando a esperança, como ele, em um contexto de perseguição e dificuldade para as comunidades cristãs da Ásia Menor. Em sua primeira Carta, que compreende apenas cinco capítulos curtos, o Apóstolo apresenta a
virtude da esperança em quatro citações (1Pd 1, 3-5; 1Pd 1, 13; 1Pd 1, 21; 1Pd 3, 13-15):

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, em Sua grande misericórdia, nos gerou de novo, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma esperança viva, para uma herança incorruptível, imaculada e imarcescível, reservada nos céus para vós, os que, mediante a fé, fostes guardados pelo poder de Deus para a salvação prestes a revelar-se no tempo do fim.” (1Pd 1, 3-5)

O Apóstolo apresenta primeiro a fonte da nova vida, “gerada de novo na ressurreição de Cristo” e, imediatamente depois, evoca a sua visão escatológica: na “esperança viva” da “herança incorruptível”, “que se revelará no tempo do fim”. Assim, a sua carta começa com a fonte onde a esperança ganha vida e continua com a visão para além da vida terrena do Reino dos Céus.

Um primeiro teste para a nossa fé: a fé que espera

“Com prontidão de espírito, sede sóbrios e ponde toda a vossa esperança na graça que vos será trazida por ocasião da Revelação de Jesus Cristo.” (1Pd 1, 13)

Em seguida, o Apóstolo convida os cristãos a viverem a realidade de sua vida atual orientada para a escatologia e a Parusia do Senhor. Aqui aparece um primeiro teste da nossa fé: “Você realmente vive a sua vida cotidiana voltado(a) para o Oriente (‘orientado’)mnessa direção da Vinda de Cristo no Último Dia? A suamfé é acompanhada ou não por essa Esperança?”

“Portai-vos com temor durante o tempo do vosso exílio. Pois sabeis que não foi com coisas perecíveis, isto é, com prata ou com ouro, que fostes resgatados da vida fútil que herdastes dos vossos pais, mas pelo sangue precioso de Cristo, como de um cordeiro sem defeitos e sem mácula.” (1Pd 1, 17-19)

Ao escrever “portai-vos com temor”, São Pedro não está, de forma alguma, dizendo aos cristãos a quem ele escreve, para “afundarem no medo”, – especialmente em tempos de perseguição! – como São Paulo também escreveu aos Romanos (cf. Rm 8, 15). Mas ele quer enfatizar o “antes” e o “depois” de uma nova vida, nascida de novo “em Cristo”. Como antigos escravos, agora “libertados” pelo “Cordeiro sem defeito e sem mancha, o sangue de Cristo” (1 Pd 1, 19). Como seres livres que agora direcionam suas vidas cotidianas para o seu Amado Mestre. A fé no Reino dos Céus, o nosso olhar cheio de esperança para o Céu, em outras palavras, a nossa “fé escatológica”, não nos desmobiliza, nem nos faz fugir, nem nos afasta dos compromissos deste mundo. Como o cardeal teólogo Henri de Lubac disse tão bem em sua época: “A crença na eternidade não nos tira do presente e nos perde em sonhos, como às vezes nos dizem, muito pelo contrário. Em vez disso, foi por falhar na eternidade que os cristãos falharam em seu tempo.” 2

A vossa fé é, ao mesmo tempo, a vossa esperança em Deus

“Por Ele, vós crestes em Deus, que o ressuscitou dos mortos e lhe deu a glória, de modo que a vossa fé e a vossa esperança estivessem postas em Deus.” (1Pd 1, 21)

A esperança não pode ser separada da fé e, com as duas virtudes teologais, são obrigadas a avançar juntas. Como o escritor católico Charles Péguy (1873 – 1914) descreveu, com originalidade e uma fé viva, à maneira de Deus:

“A crença de que eu gosto mais, diz Deus, é a esperança. A fé, isso não me espanta. Isso não é espantoso. Eu resplandeço de tal maneira na minha criação. No sol e na lua e nas estrelas. E no homem. Minha criatura. (…) A caridade, diz Deus, isso não me espanta. Isso não é espantoso. Essas pobres criaturas são tão infelizes que a não ser que tivessem um coração de pedra, como não haveriam de ter caridade umas para com as outras. Como não haveriam de ter caridade para com seus irmãos. (…) Mas a esperança, diz Deus, eis o que me espanta. A mim mesmo. Isso é espantoso. Que essas pobres crianças vejam como tudo acontece e acreditem que amanhã vai ser melhor. Que vejam como acontece hoje e acreditem que vai ser melhor amanhã cedo. Isso é espantoso e é mesmo a maior maravilha da nossa graça. E eu mesmo me espanto com isso. E é preciso que de fato minha graça seja de uma força incrível, e que ela escorra de uma fonte e como um rio inesgotável. Desde aquela primeira vez que ela escorreu e escorre sempre desde então.” 3

O segundo teste: qual é a razão da esperança que está em você?

“E quem vos há de fazer mal, se sois zelosos do bem? Mas se sofreis por causa da justiça, bemaventurados sois! Não tenhais medo nenhum deles, nem fiqueis conturbados; antes, santificai a Cristo, o Senhor, em vossos corações, estando sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pede; fazei-o, porém, com mansidão e respeito.” (1Pd 3, 13-16)

Esse é o quarto versículo em que Pedro enfatiza a importância de viver com esperança, certamente aqui na Terra, mas tendo em vista e voltados para o Reino que virá. Em 1Pd 3, 15, o cerne do testemunho cristão é particularmente acentuado: “estando sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pede”.

Esse desafio do Apóstolo nos permite fazer um exame de consciência sobre a nossa disponibilidade e docilidade missionária, assim como sobre a nossa confiança na Divina Providência, que autorizamos a se utilizar de nós a qualquer momento! Como disse o Beato Nicolas Barré em sua época (1621-1686): “Há muitos que querem servir ao Senhor, mas há poucos que querem que Deus se sirva deles!” 4.

Quais são as razões da nossa esperança cristã?

São essenciais e plurais. Entre outras, que são também de ordem teológica, parece-me que a primeira razão é a relação entre as três virtudes teologais; elas estão ligadas e agem juntas. Outro motivo é a ligação entre esperança e escatologia. Muitas vezes ouvimos as pessoas falarem sobre “o além… depois da morte”… como uma “coisa”, porque a secularização invadiu tanto a mente das pessoas que, mesmo entre os cristãos, poucos são capazes de responder clara e teologicamente sobre a escatologia, ou seja, “o fim último”. Os apóstolos Pedro e Paulo tiveram o cuidado de apresentar aos cristãos a Esperança vindoura, ou seja, a esperança escatológica, a esperança que nos permite olhar para a glória que virá, para além da nossa vida terrena. São Paulo recomenda a seu filho espiritual, Tito: “Viver ‘aguardando a nossa bendita esperança’, a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Cristo Jesus” (Tt 2, 12-13).

A morte não nos fará desaparecer completamente. O princípio espiritual, onde reside o centro de nosso ser mais íntimo, sobreviverá a essa prova final e passará pela morte “como pelo fogo” (1Cor 3, 15). A Segunda Carta atribuída a Pedro, embora não mencione diretamente a virtude da esperança, também está imbuída de um sentido escatológico (cf. 2 Pd 3, 9-13). Mas há também outras “razões” atuais e existenciais que nos obrigam a buscar a esperança face, por exemplo, à tentação citada pelo Papa São João Paulo II em sua Exortação sobre a Igreja na Europa, que é como: “o obscurecimento da esperança”

“As Igrejas na Europa, frequentemente provadas por um ofuscamento da esperança. De fato, os nossos dias, com todos os desafios que nos lançam, apresentam-se como um tempo de crise. Muitos homens e mulheres parecem desorientados, incertos, sem esperança; e não poucos cristãos partilham estes estados de alma.” 5

A Igreja primitiva nasceu a partir desse impulso da “esperança viva” (1Pd 1, 3), e foi com base nessa esperança que partiu para conquistar novas terras por meio da evangelização. O Cardeal Raniero Cantalamessa lembrou isso em uma de suas magníficas pregações em Roma: “Não se faz nada sem esperança. Os homens vão aonde se respira ar de esperança e fogem de onde não percebem a presença dela. A esperança é aquela que dá a coragem aos jovens para formar uma família ou seguir uma vocação religiosa e sacerdotal.” 6

Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja

A festa da Cátedra de São Pedro Apóstolo é comemorada todos os anos, no dia 22 de fevereiro, e lembra a autoridade do Papa, o sucessor do Apóstolo Pedro. Costuma-se dizer que Pedro foi “o primeiro papa”, embora o termo “pappa” em grego só tenha aparecido no século IV. Depois, no século XI, o nome “papa” tornou-se exclusivo do pontífice romano. De acordo com o historiador Christophe Dickès: “Pedro é mencionado 154 vezes no Novo Testamento. Isso não é muito para um historiador, mas é muito para os Evangelhos e os Atos dos Apóstolos. De fato, Pedro é a pessoa mais frequentemente mencionada depois de Jesus.” 7

O Evangelho da liturgia da “Cátedra de Pedro” está centrado na declaração de Cristo ao Apóstolo São Pedro, quando Ele entregou sua autoridade para a Igreja, embora às vezes fosse desajeitado, medroso e covarde: “Chegando Jesus ao território de Cesareia de Filipe, perguntou aos discípulos: ‘Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?’ Disseram: ‘Uns afirmam que é João Batista, outros que é Elias, outros, ainda, que é Jeremias ou um dos profetas’. Então lhes perguntou: ‘E vós, quem dizeis que eu sou?’ Simão Pedro, respondendo, disse: ‘Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo’. Jesus respondeu-lhe: ‘Bemaventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne ou sangue que te revelaram isso, e sim no meu Pai que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus’.” (Mt 16, 13-19)

A festa litúrgica da Cátedra de São Pedro comemora o segundo chamado de Jesus a Pedro (o primeiro é relatado em Mt 4, 18). O desafio desse segundo chamado (cf. Mt 16) é, de fato, uma missão dada a Pedro em função da Igreja e não apenas da sua vocação pessoal. Começando com Pedro como guardião da unidade apostólica, é um carisma que continuará, de geração em geração, em cada um de seus sucessores: um ministério e uma doutrina de fé que reconhecem be confessam o Senhorio de Jesus. Pouco antes desse segundo chamado, Jesus tinha repreendido os seus discípulos por sua falta de fé: eles ainda não entendiam o significado de seus milagres ou, em última análise, quem Ele mesmo era. Mateus então relata a clara confissão de Pedro e a promessa da primazia da fé (cf. Mt 16, 8-20). De fato, foi com base na profissão de fé de Pedro (cf. Mt 16, 13-20) que Jesus declarou ao Apóstolo: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16, 18).

Em segundo lugar, foram os próprios evangelistas que enfatizaram a singularidade desse ministério petrino: os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas relatam a lista dos doze apóstolos em seus Evangelhos – assim como Atos – começando com o nome de Simão. Pedro, nas próprias palavras de Jesus, é aquele que recebeu o chamado divino direto para ser “a pedra” sobre a qual Cristo constrói e construirá a Sua Igreja (cf. Mt 16, 18); é aquele cuja fé é firme, “quando Ele voltar” (Lc 22, 32), ele não falhará e “confirmará os seus irmãos” (Lc 22, 32). Ele é o Pastor que, sob o comando e o chamado de Cristo, guiará toda a comunidade dos discípulos do Senhor 8. Nesse sentido, São Pedro representa a rocha que garante a fidelidade rigorosa à Palavra de Deus contra as heresias, a arbitrariedade e a variedade de interpretações fundamentalistas e subjetivas. O primeiro sinal eclesial da autoridade de Pedro, da Igreja, veio do Cenáculo e, sobretudo, de Pentecostes. Como o Papa Bento XVI nos lembrou: “A primeira ‘sede’ da Igreja foi o Cenáculo, e provavelmente naquela sala onde também Maria, a Mãe de Jesus, rezou juntamente com os discípulos para que fosse reservado um lugar especial a Simão Pedro. Em seguida, a sé de Pedro tornou-se Antioquia, cidade situada à margem do rio Oronte, na Síria, hoje na Turquia.” 9

A tradição diz que Pedro foi o primeiro bispo de Antioquia e, até à reforma do calendário litúrgico estabelecida pelo Concílio Vaticano II, a Igreja celebrava a festa da “Cátedra de São Pedro em Antioquia”. Mas foi em Roma que Pedro ensinou e bcompletou a sua jornada a serviço do Evangelho por meio do martírio. A partir de então, a primazia de Pedro em “pastorear o seu rebanho” foi transferida para a sua sede apostólica, cujo papel particular foi reconhecido por todas as igrejas. “O Papa Francisco não sucedeu a Bento XVI, que por sua vez não sucedeu a João Paulo II. Não. Cada um desses papas sucedeu a São Pedro. E assim é com o poder petrino, que se transmite em uma tradição inscrita nos Atos dos Apóstolos pela imposição das mãos.” 10

Onde está Pedro, aí está a Igreja

Ao longo dos séculos, vários Padres da Igreja atestaram essa referência à fé eclesial guardada e continuada pelo primado de Pedro, entre eles: Santo Inácio de Antioquia (século I: 35-107); Santo Irineu de Lyon (século II) e Santo Ambrósio (século IV), com o seu famoso lema: “Ubi Petrus, ibi ergo Ecclesia”, “Onde está Pedro, aí está a Igreja” 11. Esse ministério de Pedro, instituído por Jesus, mais tarde contribuiu muito para tornar o bispo de Roma, a cidade onde Pedro morreu e onde Paulo deu testemunho da verdade de Cristo, o sucessor de Pedro no governo e na proteção da Igreja. Assim, com o tempo, o propósito do carisma petrino ficou mais claro como o ministério da “unidade de fé e
comunhão” entre todos os fiéis.

O episcopado e o primado: reciprocamente inseparáveis e de instituição divina

Ao longo dos séculos, por meio da Tradição, a Igreja compreendeu e acolheu essas duas referências essenciais: a sucessão dos Apóstolos realiza-se por meio do ministério dos bispos, assim como o ministério de São Pedro, como carisma de unidade, é confiado à estrutura da Igreja de Cristo e essa sucessão é fixada em Roma, sede de seu martírio. Essa sucessão primordial da Igreja de Roma também foi enriquecida pela pregação e pelo martírio de São Paulo. Muitas vezes, no curso da história, o sucessor de São Pedro teve que agir em fidelidade à sua missão, conforme definido por Santo Inácio de Antioquia já no século II: “A Igreja de Roma é a que preside à caridade” 12. Como sucessor de São Pedro, o Romano Pontífice “é perpétuo e visível fundamento da unidade, não só dos Bispos mas também da multidão dos fiéis” 13. Ele tem, portanto, uma graça ministerial específica para servir essa unidade de fé e comunhão, que é necessária para o cumprimento da missão salvífica da Igreja. Todos os bispos, como membros do Colégio Episcopal que sucede o primeiro Colégio de Apóstolos, estão empenhados na “solicitude de todas as Igrejas” (cf. 2Cor 11, 28). Isso expressa a preocupação pastoral recíproca entre a Igreja universal e a Igreja particular. A função primacial do Bispo de Roma, a função dos outros bispos e a colegialidade episcopal não estão em contradição, mas “numa original e essencial harmonia” 14. A primazia do Bispo de Roma é explicada principalmente pela transmissão da Palavra de Deus, com uma responsabilidade específica e particular, pela missão de evangelização. “Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade” 15. A missão do sucessor de Pedro sobre toda a Igreja também inclui o poder de realizar os atos de governo necessários para promover e defender a unidade da fé e da comunhão 16. Toda celebração válida da Eucaristia expressa essa comunhão universal com o sucessor de Pedro e com toda a Igreja. A nível local, “toda a celebração da Eucaristia é feita em união não só com o próprio Bispo mas também com o Papa, com a ordem episcopal, com todo o clero e com o inteiro povo” 17.

É por isso que, em todas as missas celebradas em todo o mundo, são citados o nome do Papa, sucessor de Pedro, e o nome do bispo da diocese. É sobretudo em relação à transmissão da Palavra de Deus e da Doutrina da Fé que a dimensão da “infalibilidade pontifícia” pode ser exercida. Isso não significa, entretanto, que o Papa tenha poder absoluto. O documento romano sobre o carisma petrino menciona essa questão apenas uma vez e de forma discreta: “O múnus episcopal que o Romano Pontífice tem em relação à transmissão da Palavra de Deus estendese também ao interior da Igreja inteira. Como tal, ele é um ofício magisterial supremo e universal; é uma função que implica um carisma: uma especial assistência do Espírito Santo ao Sucessor de Pedro, que implica também, em certos casos, a prerrogativa da infalibilidade.” 18 Finalmente, o sucessor de Pedro se reconhece como o “servus servorum”, ou seja, o “servo dos servos”, um nome que o Papa São João Paulo II gostava de lembrar em várias ocasiões durante seu pontificado. Como o documento romano afirma em sua conclusão, é bom que cada um de nós veja “o ministério do Servo dos servos de Deus como um grande dom da misericórdia divina à Igreja” 19. Dessa forma, o Espírito Santo renovará nossa motivação para viver em plena e efetiva união com o sucessor de Pedro e o Colégio dos Bispos, na unidade da Igreja desejada por Cristo.

A Cátedra de Pedro na Basílica de São Pedro, em Roma

A “cátedra”, do latim “cathedra” ou “assento”, como a “cátedra da verdade”, o local da pregação, é a sede do bispo em toda igreja catedral. A cátedra recordanos o magistério supremo de Pedro e, portanto, da autoridade do Papa 20. Celebrada em Roma desde o século IV, a Festa da Cátedra de São Pedro foi definitivamente fixada para o dia 22 de fevereiro quando o Papa São Paulo VI reformou o calendário litúrgico. Na Basílica de São Pedro, em Roma, o Espírito Santo, representado na forma de uma pomba, ilumina a cátedra com as cores dos vitrais da Basílica. Com uma magnífica estrutura projetada no século XVII por Bernini, a cátedra é uma das joias mais preciosas da Basílica de São Pedro em Roma. Nem todos que leem as reflexões mensais deste Compêndio terão a oportunidade de fazer uma peregrinação jubilar a Roma no ano de 2025, mas cada um de nós pode se colocar na atitude de um peregrino da Esperança, por meio da intercessão e da referência do Apóstolo Pedro e rezando pelo nosso Papa Francisco, como ele frequentemente pede. O grande Papa São João Paulo II, por ocasião do 25º aniversário de sua eleição, promulgou a exortação´apostólica “Pastores gregis”, “Pastores do rebanho”, após o Sínodo dos Bispos de 2001, sobre o ministério do Bispo. Ele lembrou a todos os pastores da Igreja a importância da esperança: “Onde falta a esperança, também a fé é posta em questão; e o amor enfraquece, quando começa a exaurir-se aquela virtude. Com efeito a esperança, especialmente em tempos de crescente incredulidade e indiferença, é firme apoio para a fé e incentivo eficaz para a caridade. Extrai a sua força da certeza da vontade salvífica universal de Deus (cf. 1 Tm 2, 3) e da´presença constante do Senhor Jesus, o Emanuel, que está sempre conosco até ao fim do mundo (cf. Mt 28, 20).” 21

 

 

 

FONTES:

1 Essas duas cartas são claramente atribuídas ao Apóstolo São Pedro. Num segundo momento, elas foram incluídas no cânone bíblico do Novo Testamento. Porém, o Apóstolo morreu martirizado em Roma, por volta de 64 d.C., e a redação dessas duas cartas é provavelmente datada entre os anos 80 a 90. Isto significa que as duas cartas são certamente consideradas de acordo com o pensamento teológico do Apóstolo São Pedro, mas foram redigidas posteriormente por um, ou vários, de seus discípulos. Tal como aconteceu da mesma forma com as cartas paulinas, que são distinguidas em 3 categorias:
1) as cartas canônicas (redigidas diretamente pelo Apóstolo)
2) as cartas deuterocanônicas (redigidas na primeira geração, por um de seus discípulos)
3) as cartas tritocanônicas, redigidas por um ou vários discípulos do Apóstolo, vários anos depois da sua morte.

2 Cf. Henri de Lubac, Paradoxes (Paradoxos), Paris, Cerf/OEuvres Complètes, XXXI, 2010, p. 63.

3 Cf. Charles Péguy, Le Porche du mystère de la deuxième vertu (O Pórtico do Mistério da Segunda Virtude), 1912.

4 Cf. Brigitte Flourez, artigo na Revista Vie Consacrée (Vida Consagrada), março de 1994.

5 São João Paulo II, Exortação Apostólica Ecclesia in Europa, 28 de junho de 2003, n. 7.

6 Cardeal Raniero Cantalamessa, Segunda Pregação do Advento, 9 de dezembro de 2022.

7 Cf. Christophe Dickès, Saint Pierre: le mystère et l’évidence (São Pedro: o mistério e a evidência), Ed. Perrin, 2021.

8 Cf. São João Paulo II, Carta Encíclia Ut Unum Sint, 25 de Maio de 1995.

9 Papa Bento XVI, Audiência Geral, 22 de fevereiro de 2006.

10 Cf. Christophe Dickès, Saint Pierre: le mystère et l’évidence (São Pedro: o mistério e a evidência), Ed. Perrin, 2021.

11 Santo Ambrósio de Milão, Explan. Psalmorum, 40, 30.

12 Santo Inácio de Antioquia, Carta aos Romanos.

13 Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, 21 de novembro de 1964, n. 23.

14 Cardeal Joseph Ratzinger, Congregação para a Doutrina da Fé, O primado do sucessor de Pedro no Mistério da Igreja, 1998, n. 5.

15 São Paulo VI, Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, 8 de dezembro de 1975, n. 14.

16 Cf. Cardeal Joseph Ratzinger, Congregação para a Doutrina da Fé, O primado do sucessor de Pedro no Mistério da Igreja, 1998.

17 Cardeal Joseph Ratzinger, Congregação para a Doutrina da Fé, O primado do sucessor de Pedro no Mistério da Igreja, 1998, n. 11.

18 Ibidem, n. 9.

19 Cardeal Joseph Ratzinger, Congregação para a Doutrina da Fé, O primado do sucessor de Pedro no Mistério da Igreja, 1998, n. 14.

20 Tradicionalmente, uma tríplice coroa é representada acima da cátedra, simbolizando o triplo poder do Papa: o poder da ordem sagrada, como vigário de Cristo e sucessor de Pedro, ele nomeia os bispos; o poder da jurisdição, em virtude do poder das chaves, o de ligar e desligar na terra e no céu. E, finalmente, o poder do magistério, em virtude da infalibilidade papal

 

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