Jovens e anciãos se alegrarão juntos

As celebrações intergeracionais, sejam elas familiares ou fraternas, quando vividas numa atitude de acolhimento do Espírito do Senhor, são sempre ocasiões edificantes que deixam bons frutos na memória dos jovens e dos mais anciãos. De fato, é bom e desejável que “jovens e anciãos” se alegrem juntos! A Igreja é uma família e a sua vida deve ser pensada para todas as faixas etárias, para que possam conviver em harmonia por meio de celebrações e encontros. Algumas podem estar ligadas a festas litúrgicas, outras celebram aniversários, outras inspiram-se em temas da vida. As relações intergeracionais nas comunidades cristãs fazem com que estas tenham uma memória viva e coletiva, na qual cada geração acolhe os ensinamentos dos que a precederam. Em julho de 2024, na Festa de Nossa Senhora do Carmo, a Comunidade Sementes do Verbo celebra vinte banos de sua fundação no Brasil. Que este aniversário seja uma oportunidade para muitos desfrutarem de uma maravilhosa celebração intergeracional em ação de graças ao Senhor.

Os anciãos terão sonhos, os jovens visões

“Eles dão fruto mesmo na velhice.” (Sl 91(92),15) “Então a virgem terá prazer na dança, e, juntos, os jovens e os velhos; converterei o seu luto em alegria, consolá-los-ei, alegrá-los-ei depois dos sofrimentos.” (Jr 31,13-14) O Papa Francisco citou a profecia bíblica de Joel em muitas ocasiões e volta a repeti-la em “Christus Vivit”. 1 “Derramarei o Meu espírito sobre toda carne. Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos anciãos terão sonhos, vossos jovens terão visões.” (Jl 3, 1) Esta profecia foi citada pelo Apóstolo Pedro na homilia do primeiro Pentecostes da Igreja (cf. At 2, 17). Na sequência desta visão, o Papa apresenta o seu desejo, afirmando-o em seguida: “Se os jovens e os anciãos se abrirem ao Espírito Santo, juntos produzem uma combinação maravilhosa: os anciãos sonham e os jovens têm visões. Como se completam reciprocamente as duas coisas? Os anciãos têm sonhos permeados de recordações, de imagens de tantas coisas vividas, com a marca da experiência e dos anos. Se os jovens se enraizarem nos sonhos dos anciãos, conseguem ver o futuro, podem ter visões que lhes abrem o horizonte e mostram novos caminhos. Mas, se os anciãos deixarem de sonhar, os jovens já não podem ver claramente o horizonte.” 2

O que dizem a Palavra de Deus e a Igreja sobre os jovens?

Esta é a pergunta que o Papa Francisco coloca no primeiro capítulo de “Christus Vivit”. Fascinam-me muitos dos escritos dos nossos últimos papas e, em particular, este, que recomendo — não só para os jovens! — ler e meditar sem moderação. “Christus Vivit” cita os jovens ilustres da Bíblia: José, Gedeão, Samuel, o rei David, Salomão, a jovem judia Rute; a lista das Sagradas Escrituras é longa, descrevendo o olhar de Deus sobre cada um deles, “numa época em que os jovens contavam pouco” 3.

Como o Papa constata: “‘a juventude’ não existe; o que há são jovens com as suas vidas concretas” 4. Mas o Papa centra a sua atenção em Cristo, porque é Ele que é a “eterna juventude”: “Jesus, o eternamente jovem, quer dar-nos um coração sempre jovem” 5. “Cristo vive: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que toca torna-se jovem, fica novo, enche-se de vida.” 6 “A juventude de Jesus ilumina-nos.” 7 Em seguida, a Exortação apresenta a juventude de Maria, a jovem virgem de Israel, “a jovem de Nazaré”: “No coração da Igreja, resplandece Maria. É o grande modelo para uma Igreja jovem, que deseja seguir Cristo com frescor e docilidade. Era ainda muito jovem quando recebeu o anúncio do anjo, não se coibindo de fazer perguntas (cf. Lc 1, 34). Mas tinha uma alma disponível e disse: ‘Eis a serva do Senhor (Lc 1, 38).” 8 “Um jovem já não é uma criança” 9, diz o Papa e, por vezes, encontra-se num período da vida em que tem de começar a assumir várias responsabilidades. “Sempre impressiona a força do ‘sim’ de Maria, jovem.” 10 “Com certeza teria dificuldades, mas não haveriam de ser idênticas às que se verificam quando a covardia nos paralisa por não vermos, antecipadamente, tudo claro ou garantido. Maria não comprou um seguro de vida! Maria embarcou no jogo e, por isso, é forte, é uma ‘influenciadora’, é a ‘influenciadora’ de Deus! O ‘sim’ e o desejo de servir foram mais fortes do que as dúvidas e dificuldades.” 11 A riqueza dos jovens santos que ofereceram a sua vida por Cristo é também um ponto de referência: “O bálsamo da santidade gerada pela vida boa de muitos jovens pode curar as feridas da Igreja e do mundo.” 12 São Sebastião, São Francisco de Assis, Santa Joana d’Arc, o Beato André Phû Yên, Santa Catarina Tekakwitha, São Domingos Sávio, Santa Teresa do Menino Jesus, o Beato Zeferino Namuncurá, o Beato Isidoro Bakanja, o Beato Pier Jorge Frassati, o Beato Marcelo Callo, a jovem Beata Clara Badano 13, e o Beato Carlo Acutis, cuja beatificação teve lugar em Assis, onde foi sepultado, no sábado, 10 de outubro de 2020. E agora os brasileiros acrescentaram à lista Guido Schäeffer, reconhecido pelo Papa Francisco como “Venerável” em 20 de maio de 2023. Ao denunciar, com a Palavra de Deus, aquilo que altera e leva à perda da juventude, a Exortação do Papa Francisco é clara e direta, ao mesmo tempo que testemunha a grande delicadeza de um Pastor: “Quando te sentires envelhecido pela tristeza, os rancores, os medos, as dúvidas ou os fracassos, Jesus estará a teu lado para te devolver a força e a esperança.” 14

Quem não sabe chorar, não é mãe

O Papa cita uma lista de situações de sofrimento e de calamidade, infelizmente demasiado conhecidas, que atingem duramente os jovens de hoje: “Muitos jovens vivem em contextos de guerra e padecem a violência numa variedade incontável de formas: raptos, extorsões, criminalidade organizada, tráfico de seres humanos, escravidão e exploração sexual, estupros de guerra (…) vários tipos de perseguição, que vai até à morte (…) crianças-soldado, gangues armados e criminosos, tráfico de droga, terrorismo (…) as várias formas de dependência (drogas, jogos de azar, pornografia, etc.).” 15 Sem esquecer de mencionar todos os impactos dos males do nosso tempo, que estão gravados no coração dos jovens: “encontramos também, os golpes recebidos, os fracassos, as recordações tristes” 16, numa palavra, as feridas…

“Muitas vezes ‘são as feridas das derrotas da sua própria história, dos desejos frustrados, das discriminações e injustiças sofridas, de não se ter sentido amado ou reconhecido’. Além disso, temos ‘as feridas morais, o peso dos próprios erros, o sentido de culpa por ter errado’.” 17 Perante estas diversas e numerosas situações, o Papa acrescenta esta interpelação: “Não podemos ser uma Igreja que não chora à vista destes dramas dos seus filhos jovens. Não devemos jamais habituar-nos a isto, porque, quem não sabe chorar, não é mãe. Queremos chorar para que a própria sociedade seja mais mãe, a fim de que, em vez de matar, aprenda a dar à luz, de modo que seja promessa de vida. Choramos ao recordar os jovens que morreram por causa da miséria e da violência e pedimos à sociedade que aprenda a ser uma mãe solidária.” 18 “Talvez ‘aqueles de nós que levamos uma vida sem grandes necessidades não saibamos chorar. Certas realidades da vida só se veem com os olhos limpos pelas lágrimas. Convido cada um de vós a perguntar-se: Aprendi eu a chorar, quando vejo uma criança faminta, uma criança drogada pela estrada, uma criança sem casa, uma criança abandonada, uma criança abusada, uma criança usada como escravo pela sociedade? Ou o meu não passa do pranto caprichoso de quem chora porque quereria ter mais alguma coisa?’ 19 Procura aprender a chorar pelos jovens que estão pior do que tu.” 20 “Às vezes o sofrimento dalguns jovens é lacerante, um sofrimento que não se pode expressar com palavras, um sofrimento que nos fere como um soco.” 21 O Papa Francisco reconhece também que alguns fiéis da Igreja nem sempre têm a atitude de Jesus para com os jovens, que estaria disposto a ouvi-los em profundidade: “Hoje nós, adultos, corremos o risco de fazer uma lista de desastres, de defeitos da juventude atual. Alguns poderão aplaudir-nos, porque parecemos especialistas em encontrar aspetos negativos e perigos. Mas, qual seria o resultado deste comportamento? Uma distância sempre maior, menos proximidade, menos ajuda mútua.” 22

O que a Palavra de Deus diz sobre os anciãos e as pessoas idosas?

Quando a Palavra de Deus explica o que significa “revestir-se desta juventude que ‘não cessa de se renovar’ (cf. Col 3, 10), especifica que se trata de revestir-se de ‘sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente’ (Col 3, 12-13)” 23. O Papa Francisco atualiza assim as palavras de Paulo: “a verdadeira juventude é ter um coração capaz de amar” 24. “O coração de cada jovem deve ser considerado ‘terra santa’, [portadora de sementes de vida divina] diante da qual nos devemos ‘descalçar’ para poder aproximar-nos e penetrar no Mistério.” 25 Em seguida, o Papa nos alerta sobre o risco daqueles que induzem no espírito dos jovens a ruptura com a família e a própria história. “Se uma pessoa vos fizer uma proposta dizendo para ignorardes a história, não aproveitardes da experiência dos mais velhos, desprezardes todo o passado olhando apenas para o futuro que essa pessoa vos oferece, não será uma forma fácil de vos atrair para a sua proposta a fim de fazerdes apenas o que ela diz? Aquela pessoa precisa de vós vazios, desenraizados, desconfiados de tudo, para vos fiardes apenas nas suas promessas e vos submeterdes aos seus planos. Assim procedem as ideologias.” 26

Na opinião do Papa, os jovens devem considerar e respeitar as suas raízes históricas, representadas pelos seus pais e antepassados, mesmo que não concordem com as ideias ou ações dos que lhes são próximos. É a própria Bíblia que nos pede que pratiquemos os mandamentos do Senhor (cf. Ex 20,1-17; Dt 5,1-21), e entre estes mandamentos, o quarto, que é o de honrar seu pai e sua mãe: “‘Ouve o pai, que te gerou, e não desprezes a tua mãe quando for velha’ (Pr 23, 22). O preceito de honrar pai e mãe ‘é o primeiro mandamento com uma promessa’ (Ef 6, 2; cf. Ex 20, 12; Dt 5, 16, Lv 19, 3), isto é, ‘para que sejas feliz e gozes de longa vida sobre a terra’ (Ef 6, 3).” 27 O Papa Francisco sublinha a importância de “educar as pessoas para respeitarem os idosos”: “A Palavra de Deus recomenda que não se perca o contato com os idosos, para poder recolher a sua experiência:Frequenta a assembleia dos anciãos; se encontrares algum sábio, faz-te amigo dele. (…) Se vires alguém sensato, madruga e vai ter com ele, e desgastem os teus pés o limiar da sua porta’ (Eclo 6, 34.36). Seja como for, os largos anos que viveram e tudo o que passaram na vida devem levar-nos a olhá-los com respeito:Levantate perante uma cabeça branca’ (Lv 19, 32). Com efeito, ‘a força é a glória do jovem, e a glória dos velhos são os cabelos brancos’ (Pr 20, 29).” 28 O ano passado realizou-se o 3º Dia Mundial dos Avós e dos Idosos. O tema escolhido pelo Santo Padre foi: “A Sua misericórdia se estende de geração em geração” (Lc 1,50), que expressava a ligação com a Jornada Mundial da Juventude que ocorreu em Lisboa (1 a 6 de agosto de 2023), com o tema: “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1,39). Este ano de 2024, o 4º Dia Mundial dos Avós e Idosos, acontecerá no Dia da Memória de São Joaquim e de Santa Ana, no dia 26 de julho. As palavras de Isabel, prima da Virgem Maria, são de grande importância no Evangelho de Lucas: “A Sua misericórdia se estende de geração em geração” (Lc 1,50). Ainda hoje, estas palavras inspiram a oração da Ave Maria: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1,42).

É verdadeiramente a ação do Espírito Santo que abençoa e enriquece cada encontro entre as diferentes gerações: entre avós e netos, entre jovens e idosos. Porque, como sublinha o Papa Francisco: “Deus quer que os jovens, como fez Maria com Isabel, alegrem os corações dos anciãos e extraiam sabedoria das suas experiências. Mas o primeiro desejo do Senhor é que não deixemos sozinhos os idosos, que não os abandonemos à margem da vida, como hoje, infelizmente, acontece com demasiada frequência.” 29 Escutar os idosos, guardiões da memória O Papa sublinhou a importância dos jovens, ao se encontrarem com os mais velhos, acolherem “o apelo a guardar as memórias e reconheçam, graças a eles, o dom de pertencerem a uma história maior. A amizade duma pessoa idosa ajuda o jovem a não cingir a vida ao presente e a lembrar-se que nem tudo depende das suas capacidades. Por sua vez, aos mais velhos, a presença dum jovem abre à esperança de que não se perderá tudo aquilo que viveram e se vão realizar os seus sonhos.” 30 “Que peço aos idosos, entre os quais me incluo a mimpróprio? Peço que sejamos guardiões da memória.” 31

Nas nossas comunidades cristãs, de vida ou de aliança, fazemos sempre parte desta riqueza complementar de diferentes gerações que trabalham em conjunto. Em função dos carismas pessoais e das diferenças de personalidade, teremos sempre de aprender a caminhar ao ritmo das “ovelhas mais fracas”. Como declarou o Patriarca Jacó, depois da sua conversão interior que o levou a tornar-se “Israel”: “Caminharei calmamente ao passo do rebanho que tenho diante de mim e ao passo das crianças.” (Gn 33,14) O Papa Francisco exprime claramente esta paciência (pastoral) de uns para com os outros, que exige uma vigilância constante na nossa caminhada conjunta em fraternidade: “As realidades maiores e os sonhos mais belos não acontecem num instante, mas através dum crescimento e duma maturação: em caminho, em diálogo, no relacionamento. Ora, quem se concentra apenas no imediato, nas próprias vantagens que se hão de conseguir rápida e sofregamente, no ‘tudo e já’, perde de vista o agir de Deus. Diversamente, o seu projeto de amor atravessa o passado, o presente e o futuro, abraça e põe em ligação as gerações. É um projeto que nos ultrapassa a nós mesmos, mas no qual cada um de nós é importante e, sobretudo, é chamado a ir mais além.” 32

Um povo que conserva as suas raízes

As raízes não são âncoras que nos prendem a outros tempos, impedindo de nos encarnarmos no mundo atual para fazer nascer uma realidade nova. Pelo contrário, são um ponto de arraigamento que nos permite crescer e responder aos novos desafios. Sendo assim, não aproveita ‘sentarmo-nos a recordar com saudade os tempos passados; devemos tomar a peito, com realismo e amor, a nossa cultura e enchê-la de Evangelho’.” 33 Ao lançar o “Dia Mundial dos Avós e dos Idosos”, no dia 31 de maio de 2023, o Papa convida as pessoas a mudarem o seu comportamento em relação aos mais idosos: “E convido depois a passar da imaginação à vida concreta, fazendo algo para abraçar os avós e os idosos. Não os deixemos sozinhos; é preciosa a sua presença nas famílias e nas comunidades: dá-nos a noção de partilhar a mesma herança e de fazer parte dum povo em que se preservam as raízes. (…) Honremo-los, não nos privemos da sua companhia nem os privemos da nossa. Não permitamos que sejam descartados.” 34 “Ninguém deve ser colocado nem deixado colocar-se de lado.” 35 “Por isso, é bom deixar que os idosos contem longas histórias, que às vezes parecem mitológicas, fantasiosas  são sonhos de anciãos (…).” 36 “Se caminharmos juntos, jovens e idosos, poderemos estar bem enraizados no presente e, daqui, visitar o passado e o futuro: visitar o passado, para aprender da história e curar as feridas que às vezes nos condicionam; visitar o futuro, para alimentar o entusiasmo, fazer germinar os sonhos, suscitar profecias, fazer florescer as esperanças.” 37

O acompanhamento dos jovens pelos adultos

“Os jovens precisam de ser respeitados na sua liberdade, mas necessitam também de ser acompanhados. A família deveria ser o primeiro espaço de acompanhamento.” 38 “O ‘Christus Vivit’ constitui, sem dúvida, uma pedagogia adequada à juventude atual: ‘Nesta busca, deve-se privilegiar a linguagem da proximidade, a linguagem do amor desinteressado,  relacional e existencial que toca o coração, atinge a vida, desperta esperança e anseios. É necessário aproximar-se dos jovens com a gramática do amor, não com o proselitismo’.” 39 “A comunidade desempenha um papel muito importante no acompanhamento dos jovens, e toda a comunidade se deve sentir responsável por acolhê-los, motivá-los, encorajá-los e estimulálos. Isto implica que se olhe para os jovens com compreensão, estima e afeto, e não que sejam julgados continuamente ou lhes seja exigida uma perfeição que não corresponde à sua idade.” 40 Depois, na última parte da Exortação, o Pastor da Igreja sublinha a importância dos mais anciãos na sua relação com os jovens, especialmente no seu acompanhamento vocacional, seja na perspectiva da construção de uma família cristã, de um caminho de vida consagrada ou de uma vocação batismal. “Àqueles que não são chamados ao matrimônio nem à vida consagrada, devemos sempre lembrar-lhes que a primeira e a mais importante vocação é a batismal.” 41 “Muitos jovens são capazes de aprender a amar o silêncio e a intimidade com Deus. Aumentou também o número dos grupos que se reúnem para adorar o Santíssimo Sacramento e rezar com a Palavra de Deus. Não se subestimem os jovens como se fossem incapazes de abrir-se a propostas contemplativas.” 42 “Reina hoje a cultura do provisório, que é uma ilusão. Julgar que nada pode ser definitivo é um engano e uma mentira. Muitas vezes ouvis dizer que ‘hoje o casamento está ‘fora de moda’ (…). Na cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é ‘curtir’ o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas (…). Em vez disso, peço-vos para serdes revolucionários, peço-vos para irdes contracorrente.” 43

O documento afirma que os bispos dos Estados Unidos sublinharam que a juventude, a partir da maioridade, marca frequentemente a entrada no mundo do trabalho. Surge, assim, a questão: “Que fazes para viver?” 44

O Papa responde: “Peço aos jovens que não esperem viver sem trabalhar, dependendo da ajuda doutros. Isto não faz bem, porque ‘o trabalho é uma necessidade, faz parte do sentido da vida nesta terra, é caminho de maturação, desenvolvimento humano e realização pessoal’.” 45 “Se partirmos da convicção de que o Espírito continua a suscitar vocações para o sacerdócio e a vida religiosa, podemos ‘voltar a lançar as redes’ em nome do Senhor, com toda a confiança. Podemos  e devemos — ter a coragem de dizer a cada jovem que se interrogue quanto à possibilidade de seguir este caminho.” 46 Que as pessoas mais velhas saibam acolher com gratidão as novas formas de compromisso demonstradas pelos jovens: “Acolhendo com gratidão também a contribuição dos fiéis leigos, incluindo jovens e mulheres, a da vida consagrada feminina e masculina e a de grupos, associações e movimentos.” 47 “A vida que Jesus nos dá é uma história de amor, uma história de vida que quer misturar-se com a nossa e criar raízes na terra de cada um. Essa vida não é uma salvação suspensa ‘na nuvem’ — no disco virtual — à espera de ser descarregada.” 48 “A tua vocação orienta-te para tirares fora o melhor de ti mesmo para a glória de Deus e para o bem dos outros. Não se trata apenas de fazer coisas, mas fazê-las com um significado, uma orientação.” 49 No mundo de hoje, o Papa recordou que todos, mas “especialmente os jovens, estão sujeitos a um zapping constante” 50. Torna-se assim ainda mais necessário o discernimento e a formação da consciência, para saber o que vem de Deus ou de “uma novidade enganadora do espírito do mundo ou do espírito maligno” 51. Para fazê-lo será, por vezes, necessário passar algum tempo em silêncio e numa escuta profunda.“Este silêncio não é uma forma de isolamento, pois devemos lembrar-nos que ‘o discernimento orante exige partir da predisposição para escutar: o Senhor, os outros, a própria realidade que não cessa de nos interpelar de novas maneiras. Somente quem está disposto a escutar é que tem a liberdade de renunciar ao seu ponto de vista parcial e insuficiente’.” 52

Escutar cada jovem, segundo três sensibilidades

Finalmente, o Papa sublinha, o modo como os acompanhadores adultos que escutam, devem ter em conta estas “três sensibilidades (ou atenções) distintas e complementares” 53: “A primeira sensibilidade ou atenção é à pessoa. Trata-se de escutar o outro, que se nos dá com as suas palavras. O sinal desta escuta é o tempo que dedico ao outro. Não é questão de quantidade, mas de que o outro sinta que o meu tempo é dele: todo o tempo que precisar para me manifestar o que quer. Deve sentir que o escuto incondicionalmente, sem me ofender, escandalizar, aborrecer nem cansar.” 54

“A segunda sensibilidade ou atenção é no discernir. Trata-se de individuar o ponto certo onde se discerne o que é a graça e o que é tentação. Com efeito, às vezes as coisas que cruzam a nossa imaginação não passam de tentações que nos afastam do nosso verdadeiro caminho (…) discernir as palavras salvíficas do Espírito bom, que nos propõe a verdade do Senhor, mas também as armadilhas do espírito mau, os seus enganos e as suas seduções. É preciso ter a coragem, o afeto e a delicadeza necessários para ajudar o outro a reconhecer a verdade e os enganos ou as desculpas.” 55

A terceira sensibilidade ou atenção consiste em escutar os impulsos ‘para diante’ que o outro experimenta. É a escuta profunda do ponto ‘para onde o outro quer verdadeiramente ir’. Mais além do que sente e pensa no presente e do que fez no passado, a atenção orienta-se para o que quereria ser. Às vezes, isto requer que a pessoa não olhe tanto para o que gosta, os seus desejos superficiais, mas para o que mais agrada ao Senhor, o seu projeto para a própria vida que se expressa numa inclinação do coração, mais além da casca dos bgostos e sentimentos.” 56 Por fim, o Papa explica: “Um bom discernimento é um caminho de liberdade que faz aflorar a realidade única de cada pessoa, aquela realidade que é tão sua, tão pessoal que só Deus a conhece” 57. Para acompanhar os outros neste caminho, o Papa acrescenta que todos devem olhar para Maria como Mãe: “Que Ela renove a tua juventude com a força da sua oração e te acompanhe sempre com a sua presença de Mãe.” 58

Corram… e tenham a paciência de esperar por nós

“Correi ‘atraídos por aquele Rosto tão amado, que adoramos na sagrada Eucaristia e reconhecemos na carne do irmão que sofre. O Espírito Santo vos impulsione nesta corrida para a frente. A Igreja precisa do vosso ímpeto, das vossas intuições, da vossa fé. Nós temos necessidade disto!’ E quando chegardes aonde nós ainda não chegamos, tende a paciência de esperar por nós.” 59

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