Lectio Divina leitura orante da Palavra de Deus
A origem da Lectio Divina
De acordo com teólogos e historiadores, a leitura orante da Bíblia remonta ao início do Cristianismo. No entanto, o primeiro a usar a expressão grega “theia anagnosis”, traduzida para o latim como: “Lectio Divina”, foi Orígenes (185-254), um dos primeiros Padres da Igreja de Alexandria. Ele descreveu a leitura da Bíblia como um exercício que exige três qualidades: atenção, constância e oração.
Posteriormente, o conhecimento da Lectio Divina chegou até nós por meio da tradição monástica. Esse exercício provém da tradição oral, que consistia em repetir as Palavras recolhidas do Senhor e dos apóstolos, para memorizá-las. Na tradição monástica, juntamente com a oração litúrgica e a salmodia, a Lectio é uma das formas mais características de buscar Deus e de ajustar nossa vida com Ele. Para a vida monástica, a Lectio Divina é como a respiração do monge, da mesma forma que a oração do coração.
O objetivo é entrar em uma vida interior de inspiração e comunhão com a Palavra de Deus. É, de fato, uma leitura amorosa e saborosa da Palavra, numa leitura orante regular. Mas a Lectio não é uma prática exclusiva dos monges. Todo cristão é chamado a se alimentar da fonte da Palavra de Deus. Essa leitura privilegiada da Palavra de Deus tem precedência sobre todas as outras leituras, até mesmo sobre a vida dos santos. Mesmo se, de fato, cada santo nos ensina uma dimensão original de sua vida em aplicação com a Palavra de Deus. Segundo as palavras luminosas do Papa Francisco: “Cada santo é uma missão; é um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspecto do Evangelho.” 1
O que é a Lectio Divina?
Não é uma leitura como outra qualquer, porque é a Palavra Divina, a Palavra do Verbo, Santo e Eterno. Para começar, não é uma questão de exegese ou teologia. Mas para praticar a Lectio, precisamos adotar uma atitude de humildade e santo temor do Senhor, seguindo o exemplo de Moisés, que ouviu o Senhor pedir-lhe: “Tira as sandálias dos pés porque o lugar em que estás é uma terra santa!” (Ex 3, 5)
Trata-se, a cada vez, de uma leitura gratuita e tranquila, de oração e reflexão do coração e do espírito, deixando-nos inspirar pelo Espírito do Senhor. Para que essas palavras permaneçam no coração, há um exercício a ser vivido, que consiste em passar da leitura à repetição, da repetição à memorização, da memorização à interiorização, de modo que, em todos os momentos, o pão da Palavra nos acompanhe
e se torne em nossas vidas, alimento, carne e força para a ação.
“Portanto, ó Israel, ouve e cuida de pôr em prática o que será bom para ti e te multiplicará muito, conforme te disse o Senhor, Deus dos teus pais, ao entregar-te uma terra onde mana leite e mel.” (Dt 6, 3) Se o estudo nos faz perscrutar a Escritura, na Lectio é a Escritura que vem perscrutar-nos e perscrutar o nosso coração até aos lugares mais recônditos e profundos. “Senhor, Tu me sondas e conheces: conheces meu sentar e meu levantar, de longe penetras o meu pensamento; examinas meu andar e meu deitar, meus caminhos todos são familiares a Ti.” (Sl 138(139), 1-3)
O estabelecimento dos quatro “graus” da Lectio divina (lectio, meditatio, oratio e actio) parece datar do século XII. Guigo, o Cartuxo (1083-1188), monge que foi um dos priores da Grande Cartuxa (na França), escreveu uma obra intitulada “A escada dos monges”, baseada em Gênesis 28, 12, na qual expõe a teoria dos quatro degraus como “subida da terra ao céu”. “Eu buscava, Senhor, a Tua face, a Tua face Senhor, eu buscava (cf. Sl 27,8); meditei muito tempo em meu coração, e na minha meditação cresceu um fogo (cf. Sl 39,4) e o desejo de Te conhecer ainda mais. Quando me repartes o pão da Sagrada Escritura, na fração do pão te tornas, conhecido por mim (cf. Lc 24,35). E quanto mais Te conheço, tanto mais desejo conhecer-Te, não já na casca da leitura, mas no sabor da experiência. Isto não peço, Senhor, por meus méritos, mas pela Tua misericórdia. Confesso-me indigna pecadora, mas até os cãezinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos (cf. Mt 15,27). Dá-me, pois, Senhor, o penhor da herança futura, uma gota ao menos da chuva celeste, para saciar a minha sede, pois ardo de amor (cf. Ct 2,5).” 2
Notemos o crescimento e a progressão acentuada dos verbos usados pelo monge: buscar, desejar, conhecer. A oração na Lectio não pode ser passiva nem quietista. Pelo contrário, trata-se de permanecer atento para meditar e orar. O fogo do Espírito que inspira virá mais tarde. A primeira coisa a ser apresentada é uma alma de desejo, uma alma que tem sede. Desde o Concílio Vaticano II, as leituras para a missa de cada dia já foram escolhidas pela Liturgia da Igreja (no Ano A, B ou C). Durante cada ano litúrgico, celebramos os grandes atos da história da salvação, começando com a história de Jesus Cristo que veio à nossa condição humana. Só podemos recomendar a Lectio Divina diária com base nessas leituras.
O Papa Bento XVI nos aconselha a fazer isso: “Em certo sentido, a leitura orante pessoal e comunitária deve ser vivida sempre em relação com a celebração eucarística. Assim como a adoração eucarística prepara, acompanha e prolonga a liturgia eucarística, assim também a leitura orante pessoal e comunitária prepara, acompanha e aprofunda o que a Igreja celebra com a proclamação da Palavra no âmbito litúrgico. Relacionando, de forma tão estreita, a lectio e a liturgia, podem se identificar melhor os critérios que devem guiar esta leitura no contexto da pastoral e da vida espiritual do Povo de Deus.” 3
Em seguida, o Papa Bento XVI propõe quatro questões pedagógicas básicas para viver a Lectio Divina:
• “O que diz o texto bíblico em si?
• O que nos diz o texto bíblico? (pessoalmente, mas também como realidade comunitária)
• O que dizemos ao Senhor, em resposta à sua Palavra?
• Que Palavra inflama o teu coração?
• Qual é a conversão da mente, do coração e da vida que o Senhor nos pede?” 4
A tradição monástica apresenta cinco exercícios na Lectio Divina 5:
• A leitura (é o primeiro exercício do iniciante);
• A meditação (é o exercício daquele cujo espírito
deseja progredir);
• A oração (é o exercício da fé do coração);
• A contemplação (é o exercício do bem-aventurado
que “adentrou em Deus”);
• A ação (é para aqueles que colocam a Palavra de
Deus em prática).
Guigo, o Cartuxo, exorta seus leitores nestes
termos:
“A leitura procura a doçura da vida bem-aventurada,
a meditação a encontra, a oração a pede, a
contemplação a experimenta.” 6
1) A leitura (lectio): o que diz o texto bíblico em si? A leitura é interior, mas também pode ser exteriorizada (em determinados momentos e lugares), ou seja, lida e proclamada em voz alta e de maneira solene. Dessa forma, o Espírito Santo, que inspirou as Escrituras, penetra em nossos ouvidos, como se batesse à porta de nosso coração. Essa
Palavra deve ser proclamada, mas primeiramente, eu mesmo, preciso recebê-La. Precisamos ler passagens específicas e não escolher textos aleatoriamente. Por exemplo, escolher o lecionário para as leituras diárias ou um livro bíblico contínuo. Ler o texto na íntegra, sem separar nem selecionar, acolhendo-o como se o estivéssemos lendo pela primeira vez 7.
Ao ler, ouço Aquele que está falando, em outras palavras, o próprio Senhor. Ouvir é amar, como Maria
de Betânia testemunhou a Jesus: “Maria, ficou sentada aos pés do Senhor, escutando-Lhe a Palavra.” (Lc 10, 39)
O perigo que muitas vezes enfrentamos é o de ouvir a Palavra de Deus de forma muito superficial: “Eu já conheço o texto, já o ouvi tantas vezes!”. Muitas vezes temos que lutar contra esse preconceito desmobilizante, típico do cansaço e da monotonia de uma leitura muito superficial. Um monge (anônimo) escreveu esta máxima, semelhante a um provérbio bíblico: “O tolo nem se dá ao trabalho de ler, porque conhece o texto… O sábio sabe que uma coisa é conhecer a fórmula química da água, e outra bem diferente é saboreá-la.”
Para ouvir a Palavra Divina, temos que continuar voltando a Ela e ouvi-La falar conosco. Se eu pensar que já conheço a Palavra de Deus, na verdade, isso significa que não a estou ouvindo mais. Pois essa Palavra não é unívoca, mas, como declara o salmista, é “plurivocal”: “Deus falou uma vez, e duas vezes eu ouvi” (Sl 62, 12).
2) Meditação (meditatio): o que nos diz o texto bíblico, pessoalmente mas também como realidade comunitária? De que forma devo deixar-me interpelar e questionar, pessoalmente, mas também, no que toca à minha vida comunitária? Então, junto com a repetição da Palavra no tempo presente, vem a etapa da manducação, da ruminação desta Palavra. Na tradição judaica, você ouve com a boca, o que significa que, precisa repeti-la várias vezes. Na catequese judaica, o filho, ao voltar da sinagoga, repete as palavras do Pai. Da mesma forma, o discípulo repete as palavras de seu mestre. Desta forma, a Palavra passa dos lábios para os ouvidos que a ouvem, e dos ouvidos atentos para o coração. Depois, o filho, como o discípulo, começa a apegar-se a essa Palavra, a torná-La sua. E seus pensamentos e sentidos se fixam Nela. “Que estas Palavras que hoje te ordeno estejam em teu coração! Tu as inculcarás aos teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando em teu caminho, deitado e de pé. Tu as atarás também à tua mão como um sinal, e serão como um frontal entre os teus olhos; tu as escreverás nos umbrais da tua casa, e nas tuas
portas.” (Dt 6, 6-9)
3) Oração (oratio): que dizemos ao Senhor, em resposta à Sua Palavra? Essa é a passagem da meditação para a oração, que pode ser de louvor, ação de graças, compunção, silêncio amoroso, recolhimento, súplica etc. Um camponês de Ars descreveu a sua oração ao Santo Cura quando vinha à Igreja de Ars da seguinte forma: “Eu O aviso e Ele me avisa”. O silêncio é necessário para rezar e meditar, mesmo sem virar as páginas, como em um estudo bíblico. Só podemos prestar atenção à Palavra se silenciarmos nosso ser mais profundo. Precisamos ouvir e acolher antes mesmo de refletir, porque é a fé que deve iluminar nossa inteligência. A nossa geração tem mais dificuldade em recolher-se.
A oração diária ajuda a superar essa dificuldade. A Palavra que veio a nós na meditação agora retorna a Deus em forma de oração. A meditação vem de um coração e de uma mente que foram visitados pela Palavra. Depois vem o momento de nossa resposta a Deus. Ele se entregou a mim na leitura; eu me entrego a Ele na oração. Esse é um momento para ser vivido com a humildade e a pequenez, mas também com a confiança e a verdade. A Palavra deve passar pelo circuito de: nossos ouvidos, nossa inteligência, nosso coração, nossa boca. O discípulo é aquele que escuta. “O Senhor Deus me deu uma língua de discípulo para que eu soubesse trazer ao cansado uma palavra de conforto. De manhã em manhã ele me desperta, sim, desperta o meu ouvido para que eu ouça como os discípulos. O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não fui rebelde, não recuei.” (Is 50, 4-5)
A Virgem Maria nos ensina a consentir na Sua Palavra. “Desceu então com eles para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe, porém, conservava a lembrança de todos esses fatos em seu coração.” (Lc 2, 51) A leitura meditativa nos conduz à oração. É a nossa resposta pessoal ao que Deus acabou de nos revelar. Somente tomemos cuidado para não entrarmos em discussões conosco mesmo, o que é uma distração muito comum. Essa oração, na Lectio, é uma oração de fé e confiança, toda centrada em Cristo, em Sua vida, em Seu olhar, em Suas palavras e ações, mergulhada na vida do Senhor. É uma oração que nos descentra de nós mesmos, nos fazendo sair da monotonia e nos centralizando somente em Deus e Nele só.
4) Contemplação (contemplatio): o exercício do bem aventurado que “adentrou em Deus”. É uma contemplação amorosa que nos permite ver com os olhos do Ressuscitado, mesmo no sofrimento, e reconhecer o Amor, mesmo na vida mais triste e solitária. Esse é o momento em que o próprio Espírito do Senhor vem para nos conquistar, assumir o controle e nos incendiar. Não podemos nos elevar à contemplação; é Deus quem nos eleva a ela e nos conduz até lá. Para o Papa Bento XVI: “A oração (…) é o primeiro modo como a Palavra nos transforma. (…) a contemplação tende a criar em nós uma visão sapiencial da realidade segundo Deus e a formar em nós ‘o pensamento de Cristo’ (cf. 1 Cor 2, 16).” 8
5) Ação (actio): qual é a conversão da mente, do coração e da vida que o Senhor nos pede? Ainda temos que passar da contemplação para a prática ativa da Palavra. Pois não se trata apenas de ler Cristo e até mesmo amá-Lo, mas de segui-Lo concretamente. O desafio é colocar nossa vida em ação, a serviço. “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”. (Lc 8, 21) “Tornai-vos praticantes da Palavra e não simples ouvintes, enganando-vos a vós mesmos! Com efeito, aquele que ouve a Palavra e não a pratica assemelha-se a um homem que, observando o seu rosto no espelho, se limita a observar-se e vai-se embora, esquecendo-se logo da sua aparência. Mas aquele que considera atentamente a Lei perfeita da liberdade e nela persevera, não sendo um ouvinte esquecido, antes, praticando o que ela ordena, esse é bem-aventurado naquilo que faz.” (Tg 1, 22-25)
É um desafio de conversão dos nossos atos. A leitura deve desembocar na ação, na nossa própria vida: a mudança efetiva e concreta de meu próprio coração, permitindo que a Palavra se fixe em mim. A Palavra deve encarnar-se em nós, sem permanecer apenas a nível do conhecimento, mas continuando Sua trajetória até realizar Sua obra em nós. A disciplina da Palavra é dada para que eu possa ser mudado, convertido e santificado. Também precisamos Dela para a saúde de nossa vida em comum. Nossos irmãos e irmãs precisam dela, assim como toda a comunidade que, por sua vez, se tornará mais feliz e mais forte. “Assim, todo aquele que ouve essas minhas palavras e as põe em prática será comparado a um homem sensato que construiu a sua casa sobre a rocha.” (Mt 7, 24) “A Palavra de Cristo habite em vós ricamente: com toda sabedoria ensinai e admoestai-vos uns aos outros e, em ação de graças a Deus, entoem vossos corações salmos, hinos e cânticos espirituais.” (Cl 3, 16)
A Palavra de Deus deve residir e dominar em nossas palavras e ações, mais do que o nosso ego pode tentar dominar e controlar. Através do exercício diário da Lectio, o ouvinte da Palavra torna-se, gradualmente o praticante da Palavra. A verdadeira escuta conduzirá à prática. A Lectio, nesse sentido, não é apenas uma escola de oração, mas torna-se verdadeiramente uma escola de vida. Para o Papa Bento XVI: “A Lectio divina não está concluída, na sua dinâmica, enquanto não chegar à ação (actio), que impele a existência do fiel a doar-se aos outros na caridade.” 9
Onde, quando e como viver a Lectio Divina
Todos os dias, cada pessoa precisa consagrar um tempo disponível e de boa qualidade à Palavra de Deus lida, meditada e rezada. As manhãs são sempre preferíveis, porque o espírito ainda está fresco e disposto, ao passo que, durante o dia de trabalho, o cansaço inevitavelmente será mais sentido. Esse tempo dedicado à Palavra deve ser vivido sem pressa nem agitação, mas escolhido de maneira correta e recolhida.
Um lugar escolhido
A leitura requer calma, silêncio e recolhimento. O silêncio exterior é necessário e está a serviço do silêncio interior. “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora ao teu Pai que está lá, no segredo; e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará.” (Mt 6, 6) Esse será o lugar onde o Senhor poderá falar ao nosso coração, mesmo que às vezes seja um lugar de batalhas e combates. “Por isso, eis que, Eu mesmo, a seduzirei, conduzi-la-ei ao deserto e falar-Lhe-ei ao coração.” (Os 2, 16)
Um tempo previsto
É bom escolher um momento favorável e suficiente para disponibilizar-se à leitura e para permanecer fiel a ela. A leitura exige um tempo determinado, o que às vezes faz parte da ascese. São Jerônimo escreve: “Se rezas, falas com o Esposo; se lês, é Ele quem te fala.” 10 Desde o início, precisamos fazer uma escolha sobre a nossa assiduidade e continuidade, a fim de alcançar a fidelidade. Caso contrário, a dispersão assume o controle. É por meio da fidelidade que podemos acolher, assimilar e memorizar a Palavra. É assim que nossos amigos ortodoxos da Fraternidade São Marcos, aprendem, memorizam e cantam o Evangelho de Marcos, na sua totalidade, todas as semanas, e isto há vários anos. João Cassiano escreve: “Esforça-te, de toda maneira, por dedicar-te assiduamente à leitura sagrada, de modo que a tua incessante meditação impregne o teu espírito e, assim, te transforme à Sua própria semelhança.” 11
Essa leitura deve ser feita regularmente, sendo preferível adotar um ritmo cotidiano, pois assim, o diálogo pessoal com Deus pode ser estabelecido. Esse ritmo diário e regular é essencial para que a Palavra frutifique em nós.
Invocando o Espírito Santo
Foi Ele quem inspirou a Sagrada Escritura e é Ele quem vem revelá-La para nós. Peçamos a Ele a luz de e Sua assistência e de Sua inspiração. A Palavra torna-se viva somente por meio do Espírito que está Nela e sobre quem Ela repousa. O Espírito não age apenas uma vez ao inspirar os textos sagrados, mas age sempre naqueles que leem esses textos. Basta a Sua presença para permitir que a letra se torne espírito. A Palavra torna-se fecunda a partir do momento em que o Espírito a anima. A invocação do Espírito produz em nós a docilidade seguida da iluminação.
A leitura espiritual das Escrituras significa uma leitura no Espírito e com o Espírito. Sem o Espírito Santo, a Lectio continua sendo uma tarefa meramente humana, tão simples quanto banal. Santa Teresa de Ávila escreve: “Deus ensina a alma e Lhe fala sem falar, do modo que fica dito. É uma linguagem tão do Céu, que aqui na terra não se pode dar a entender, por mais que o queiramos dizer, se o Senhor, por experiência, não no-lo ensina. Põe o Senhor, no mais íntimo da alma, o que quer que ela entenda e ali o representa sem imagem nem forma de palavras, a não ser à maneira desta visão que fica dita. E note-se bem esta maneira de fazer Deus com que entenda a alma o que Ele quer, e grandes verdades e mistérios; porque muitas vezes o que entendo, quando o Senhor me declara alguma visão que Sua Majestade quer representar-me, é assim.” 12 Somos motivados e confirmados pelas palavras do Bispo Santo Ambrósio, quando escreve: “Quando leio a Divina Escritura, Deus volta apassear no paraíso terrestre.” 13
Fontes:
1 Papa Francisco, Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, 2018, n. 19.
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2 Guigo, o Cartuxo, Scala claustralium, (A Escada dos Monges), Carta ao Ir. Gervásio, sobre a vida contemplativa.
3 Cf. Bento XVI, Verbum Domini, 2010, n. 86.
4 Cf. Ibid., n. 87.
5 Cf. Guigo, o Cartuxo, Scala claustralium, A Escada dos Monges.
6 Ibid.
7 O Compêndio publicado pela Comunidade Sementes do Verbo menciona todos os dias as leituras da liturgia da Missa.
8 Bento XVI, Verbum Domini, n. 87.
9 Bento XVI, Verbum Domini, n. 87.
10 São Jerônimo, Epístola 22, 25, citado por Papa Bento XVI, Audiência Geral,
14 de novembro de 2007.
11 Cf. João Cassiano, Conferências, 14, 11, Sources Chrétiennes.